HOSPITAL DOS HORRORES

terça-feira, 31 de maio de 2011

HOSPITAL DOS HORRORES


Seis e meia da manhã, estou quase a morrer de dor, dirijo-me ao Hospital, o único que há na cidade.

Chego, olho de um lado a outro, não vejo ninguém. Instante depois surge um sujeito com cara de poucos amigos e eu interpelo:

- Bom dia aqui é a emergência?
- Sim. Responde o homem.

Então com minha angustia, digo a ele que estou com muita dor, e ele não se compadece.

- Estou com muito dor no tornozelo, deve ser um ataque agudo.
- O atendimento começa às sete horas.

Consulta o relógio, eu também consulto o meu e o homem some porta adentro do hospital.

O tempo passa lentamente para quem esta com dor, e aquele homem que não volta mais. Minhas dores aumentando, quase insuportável e meu problema longe de ser resolvido. Mas de repente ouço um barulho de chaves, alguém vindo na direção da porta. E um barulho corta aquele silencio. O barulho de uma chave do tipo senoide e abre-se uma porta grande com dobradiças rangendo, aparece uma moça, uma simpática enfermeira. A interpelo também com meus argumentos, e ela chama apressadamente outra pessoa.

- Fulano! Fulano! Fulaninho!!

E nada, ela entra porta adentro, tranca-a e desaparece.

Dez minutos depois, aparece outra moça, uma enfermeira, trás consigo um estetoscópio pendurado ao pescoço, não fala nada, abre uma porta lateral, arruma uma cadeira velha e sai novamente.

Já não agüentando mais de tanta dor, iria esperar quanto tempo mais? Olhei para a porta lateral e me dei conta de uma placa na parte superior. “Atendimento”. Dirijo-me para aquela cadeira e sentei-me próximo a mesa.

O tempo passou, olhava no relógio pendurado na parede, nada de atendimento, o ponteiro dava lentamente uma volta parecia que não queria fazer aquilo, a placa me incomodava aquilo me incomodava.

Angustiado ao dolorido tempo, lento demais para ser o tempo normal, Consultei o relógio mais uma vez e nada, já eram sete horas e quarenta e cinco minutos e ninguém tinha me atendido. Pensei – Se morrer aqui ninguém vai saber que morri de tão deserto que estava àquele ambiente.

O barulho da senoide corta mais uma vez o silencio, novamente a porta se abre e uma moça toda de branco (sisuda) aparece novamente, desta vez fala comigo.

- Senhor, vamos trocar de cadeira.

Levanto e ela troca a cadeira, pega o estetoscópio e pede que eu estenda o braço. Obedeço e começa a medição. Mede uma, duas, três vezes a minha pressão. Fica em silencio e eu pergunto:

- Algum problema?
- Sim o aparelho esta descalibrado.
- Ufa! Ainda bem que não sou! Digo.
- Mas o senhor esta com 15x11.
- Isso significa o que?
- O senhor é hipertenso?
- Não! Não sou.
- O medico é que vai dizer. Aguarde na ante-sala.

Ficha na mão, dor no tornozelo, a moça sumiu novamente, será que aquela fala “aguarde na ante-sala significa demorar muito”?

Oito horas e quinze minutos, entra o sujeito com cara de poucos amigos, arrasta uma velha cadeira, abre uma gaveta, pega um molho de chave, escolhe uma das chaves e tranca a grande porta.

- Amigo! Vai demorar para me atenderem? Ele me olha com olhar de peixe morto, abaixa a cabeça e nada responde. Acho que ele não me ouviu. Penso. Arrisco mais uma vez.

- Amigo? Qual o médico esta de plantão?
- Não sei.

O sujeito remexe uma gaveta pega um controle remoto, olha pra TV e aperta o botão.

Arrumo-me no banco, da ante-sala e o tempo não passa. Agora assisto tv. Desenho de toda sorte, Ana Maria Braga. Desenhos. E começa o jogo do Brasil.

Cada chute que os jogadores davam na bola, doía no meu pé tamanha era minha dor.

No inicio do segundo tempo, aquela senóide rasga minha concentração outra vez. Aquela porta se abre e aparece outra pessoa de branco, traz uma prancheta, deixa a sobre a mesa do sujeito sisudo que a esta altura do campeonato já havia ganhado um apelido, dado por mim. São Pedro – o homem da chave - devido ao imenso molho de chave que o mesmo transporta.

Se esse desgraçado tem jeito de São Pedro, duas coisas podem ter acontecido: A primeira - que já estou morto e essa porta deve a porta do céu ou do inferno. E a segunda – menos mal – é que estou delirando de tanta dor.

Passaram se vários minutos chegaram mais pessoas cada uma com um problema diferente e foram sentando ali naquele banco. E o tempo passando!

Durante o tempo em que fiquei ali, muitas pessoas estiveram comigo: A minha Chefe, ela entra olha de um lado para o outro, me avista, vem ao meu encontro sorridente, e fala rapidamente do meu problema, brinca dizendo que tenho que me cuidar mais e logo vai embora.

O barulho da senoide rompe mais uma vez o silencio e a moça de branco com a prancheta na mão chama:

- Senhor . . .
Nem era preciso chamar pelo meu nome, levantei fui ao seu encontro. Disse com meus botões: Graças a Deus. E para minha sorte o medico era conhecido. Entro no consultório, digo bom dia, o medico nem liga, diz que vão fazer alguns exames em mim. Encaminha-me ao ambulatório, tiram meu sangue, mandam deitar-me numa cama e aguardar.

No leito, deitado ainda com dor, começo a pensar na vida. São dez horas da manhã. O tempo passa e nada nem remédio, nem doutor, nem exames, nada. Aparece uma senhora pela vestimenta é a cozinheira e pergunta se quero almoçar. Olho no relógio são onze horas, digo que sim, ela vai embora e uma hora depois volta com um marmitex.

O tempo passa! ...

Quinze horas – Estou deitado aguardando um remédio.
Quinze e trinta – aparece minha ex-mulher me cumprimenta, pergunta o que foi, respondo e ela vai embora.

Dezesseis horas – volta a minha ex com uma garrafa de chá e pede que eu tome.

- Vai ser bom! É diurético.

Reluto, ela insiste e sai. O barulho miserável daquela senoide insiste em me irritar a cada momento. Há esta hora já tenho companhia no quarto, uma jovem senhora esta com seu filinho doente, e estabelecemos um dialogo cortês, ela conta parte de sua historia eu conto parte da minha, para passar o tempo.

Dezessete horas: A moça da prancheta aparece e diz:

- Seus exames ficaram prontos, siga-me até o consultório medico.

Chegando ao consultório, estranho, não é mais o mesmo médico, este agora fala todo enrolado não é espanhol, nem portunhol, mas tudo bem sento e aguardo.

O medico sem me olhar escreve várias papeletas, depois me diz:

- Aqui estas um permisso para una semana, La receita, el senior tienes quy comprar os remédios, em La farmácia, qui no ai.

- Sênior nom puedes comer la rabada nem la buchadas, precisa emagrecer, nom puedes tomar álcool, nien tampouco comidas ermosa.

- Ok! (quase morrendo de dor), Da vontade de socar a cara do medico, porém enquanto esperava, li um recado na parede “Pena a quem agredir funcionário publico. Acho que eram duzentos anos de prisão, não sei, estava com tanta dor que nem quis ler aquela droga de anuncio, ou sei la do que devo chamar aquilo.

Pego todos aqueles papeis sem entender bem o que havia acontecido, ainda sentindo as mesmas dores, a senoide toca mais vez e irritado exclamo: Droga! Isso é a casa dos horrores. Saio e vou embora com dores, agora era bem mais aguda



GERYSMAR FERNANDES