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terça-feira, 25 de agosto de 2009
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A PATRIA QUE TORTURAVA VII
domingo, 9 de agosto de 2009
2 DE SETEMBRO DE 2005
MEMÓRIA
Filho de guerrilheira do Araguaia
torturada grávida ganha indenização

-
Criméia com o filho agora idenizado
João Carlos Schmidt de Almeida Grabois, o Joca, atualmente com 32 anos, filho de André Grabois e Criméia Alice Schmidt de Almeida, ambos guerrilheiros do Araguaia durante a resistência à ditadura militar, acaba de receber uma indenização simbólica de R$ 22 mil, em sentença única na jurisprudência brasileira. Ele nasceu no hospital da guarnição do Exército, em Brasília, onde sua mãe estava presa. Criméia fora torturada até o oitavo mês de gravidez. Na época, a esposa do general Amaury Krüel levou roupas de recém-nascido para o bebê, fato que se tornou, mais tarde, a prova do episódio tenebroso.
Militante do PCdoB, Criméia afastou-se da guerrilha em agosto de 1972, por estar grávida, e passou a morar em São Paulo com uma irmã. Mas foi presa em 29 de dezembro do mesmo ano e passou pela “sucursal do inferno” — como era conhecida a sede do DOI/Codi na rua Tutóia, sucessor da não menos sinistra Operação Bandeirantes. Sofreu torturas até 22 de janeiro de 1973. Grávida.
Transferida para as dependências do Exército, em Brasília, continuaram a torturá-la. Seu marido, André Grabois, comandante do "Destacamento A" na Guerrilha do Araguaia, estava na luta onde morreu em outubro daquele mesmo ano, sem conhecer o filho.
O requerente, beneficiado agora com a indenização, nasceu em 13 de fevereiro de 1973, sendo entregue a seus familiares.
A defesa do doutor Gonçalves
Baseado em sustentação técnica e jurídica, o médico pediatra Henrique Carlos Gonçalves, representante do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo e membro da Comissão Especial de Anistia da Secretaria da Justiça, concluiu que o feto humano também goza das salvaguardas legais do Direito.
No caso da guerrilheira gestante torturada, a comissão acolheu o parecer de que as torturas causaram danos ao feto pelas doenças e sofrimentos inflingidos à presa política, sua mãe.
“Entendo que o fruto do concepto de 7 meses de gestação deve ser reconhecido como preso político da ditadura militar de 1964. Pelas torturas sofridas no período de sua vida intra-uterina, que, inegavelmente, haja visto centenas de trabalhos científicos, lhe resultaram transtornos psicológicos, deve receber a indenização”, disse o médico Gonçalves.
“O requerente é filho de uma mãe que sofreu sevícias durante sua gravidez, é o titular de um direito ao reconhecimento das torturas que suportou com a mãe. Ora, gestante e gestado são vítimas e detentores do direito ao reconhecimento da prisão e das torturas”.
“O fato de o cordão umbilical ter sido cortado em Brasília, não isenta as autoridades e instituições paulistas de terem preso um concepto, absolutamente inocente, no ventre materno, e de tê-lo submetido a torturas inimagináveis”, argumentou ainda.
“Será que podemos rejeitar o direito deste concepto e não transmiti-lo ao ser humano que dele resultou, posto que tais direitos deveriam aguardar o corte do cordão umbilical que o unia à progenitora?” será que com 7 meses de desenvolvimento intra-uterino, ele não tinha direitos que deveriam ser reconhecidos e preservados?”
Com este arrazoado, o médico fez a defesa do caso junto aos membros da comissão de anistia, segundo relato feito no Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo
Fonte:
Difusor de Notícias
MEMÓRIA
Filho de guerrilheira do Araguaia
torturada grávida ganha indenização

-
Criméia com o filho agora idenizado
João Carlos Schmidt de Almeida Grabois, o Joca, atualmente com 32 anos, filho de André Grabois e Criméia Alice Schmidt de Almeida, ambos guerrilheiros do Araguaia durante a resistência à ditadura militar, acaba de receber uma indenização simbólica de R$ 22 mil, em sentença única na jurisprudência brasileira. Ele nasceu no hospital da guarnição do Exército, em Brasília, onde sua mãe estava presa. Criméia fora torturada até o oitavo mês de gravidez. Na época, a esposa do general Amaury Krüel levou roupas de recém-nascido para o bebê, fato que se tornou, mais tarde, a prova do episódio tenebroso.
Militante do PCdoB, Criméia afastou-se da guerrilha em agosto de 1972, por estar grávida, e passou a morar em São Paulo com uma irmã. Mas foi presa em 29 de dezembro do mesmo ano e passou pela “sucursal do inferno” — como era conhecida a sede do DOI/Codi na rua Tutóia, sucessor da não menos sinistra Operação Bandeirantes. Sofreu torturas até 22 de janeiro de 1973. Grávida.
Transferida para as dependências do Exército, em Brasília, continuaram a torturá-la. Seu marido, André Grabois, comandante do "Destacamento A" na Guerrilha do Araguaia, estava na luta onde morreu em outubro daquele mesmo ano, sem conhecer o filho.
O requerente, beneficiado agora com a indenização, nasceu em 13 de fevereiro de 1973, sendo entregue a seus familiares.
A defesa do doutor Gonçalves
Baseado em sustentação técnica e jurídica, o médico pediatra Henrique Carlos Gonçalves, representante do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo e membro da Comissão Especial de Anistia da Secretaria da Justiça, concluiu que o feto humano também goza das salvaguardas legais do Direito.
No caso da guerrilheira gestante torturada, a comissão acolheu o parecer de que as torturas causaram danos ao feto pelas doenças e sofrimentos inflingidos à presa política, sua mãe.
“Entendo que o fruto do concepto de 7 meses de gestação deve ser reconhecido como preso político da ditadura militar de 1964. Pelas torturas sofridas no período de sua vida intra-uterina, que, inegavelmente, haja visto centenas de trabalhos científicos, lhe resultaram transtornos psicológicos, deve receber a indenização”, disse o médico Gonçalves.
“O requerente é filho de uma mãe que sofreu sevícias durante sua gravidez, é o titular de um direito ao reconhecimento das torturas que suportou com a mãe. Ora, gestante e gestado são vítimas e detentores do direito ao reconhecimento da prisão e das torturas”.
“O fato de o cordão umbilical ter sido cortado em Brasília, não isenta as autoridades e instituições paulistas de terem preso um concepto, absolutamente inocente, no ventre materno, e de tê-lo submetido a torturas inimagináveis”, argumentou ainda.
“Será que podemos rejeitar o direito deste concepto e não transmiti-lo ao ser humano que dele resultou, posto que tais direitos deveriam aguardar o corte do cordão umbilical que o unia à progenitora?” será que com 7 meses de desenvolvimento intra-uterino, ele não tinha direitos que deveriam ser reconhecidos e preservados?”
Com este arrazoado, o médico fez a defesa do caso junto aos membros da comissão de anistia, segundo relato feito no Fórum dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo
Fonte:
Difusor de Notícias
A PATRIA QUE TORTURAVA VI
história do povo brasileiro
Cearenses sentem orgulho de terem lutado com comunistas

Doutor Gonçalo: "chegamos a praticar exercícios militares"
Entre os sobreviventes dos focos de resistência da Diocese de Crateús, está José Gonçalo, conhecido por doutor Gonçalo. Ele é semi-alfabetizado e o nome de doutor provém do fato da grande inteligência prática, para consertos de produtos eletrônicos, conhecimentos adquiridos como autodidata.
Doutor Gonçalo foi um dos recrutados por Eloísio e ainda hoje se mantém na luta pela consolidação do PCdoB na região e se diz materialista. Curiosamente, quem o recrutou, Eloísio, passou a acreditar e tomar decisões individualistas. No reencontro, Eloísio já não pôde mais convencer o antigo camponês sobre o que seria melhor para ele.
Doutor Gonçalo fala do passado com orgulho e com a consciência de que fez o melhor para si e para o coletivo. Naquela época, o PCdoB contava com um comitê na Região de Crateús, embora clandestino. Os contatos de recrutamento em Novo Oriente aconteciam através de ativistas de Fortaleza, principalmente com o movimento estudantil. Os mais estreitos laços eram com Lúcio, chamado de Júlio, professor Oliveira e, principalmente, o Eloísio (Pedro) e com o Vladimir Pomar (Zé Alves).
“Houve um momento que acreditamos que a saída era a luta armada. Chegamos a praticar exercícios militares. Por sinal, pouco tempo depois, formou-se a guerrilha de Conceição do Araguaia. Foi um período em que o partido praticamente desapareceu aqui de Novo Oriente”, lembra doutor Gonçalo.
Um dos principais pontos de resistência, conforme lembra doutor Gonçalo, foi a construção de túnel em Dois Irmãos, distrito de Novo Oriente, na subida da terra, que deveria ser utilizado com esconderijo de armas, alimentos, água e até mesmo de militantes, diante de uma perseguição intensiva da repressão militar.
Conforme lembra, havia uma crença forte de que a revolução poderia acontecer, de forma conseqüente, se fosse do campo para a cidade. No entanto, reconhece que houve precipitação. “A gente acreditava porque não via uma outra saída. O Partido também agia com esse pensamento. Da forma que a gente é educado é a forma que se coloca em ação”, diz.
Durante a perseguição política, o que lembra como o mais grave foi a prisão do padre Geraldinho, uma ação traumática, que fez todas as pessoas do grupo a passarem dias na clandestinidade e a temer pela própria vida. “Depois disso, houve a prisão de um cunhado meu, torturado com o choque e nós escapamos nos escondendo. Nós estávamos preparados para morrer ou matar“, diz.
Doutor Gonçalo conheceu o partido, depois que os estudantes de Fortaleza chegaram a Crateús, com o ideal de se iniciarem na luta armada. Ele admite que de todos os focos, o mais organizado aconteceu em Novo Oriente.
O sucesso das ações, conforme observa, foi resultado muito mais das normas de segurança, em que até mesmo dom Fragoso, desconhecia o que se realmente discutia e se fazia naquele município. “Nós trabalhávamos com muita segurança e a Igreja não sabia quem era do partido. Isso também decorria do fato de que estávamos misturados com o povo, éramos do povo”, avalia.
Doutor Gonçalo diz, no entanto, que dom Fragoso contribuiu fortemente com o PCdoB e o seu ideário, mesmo de forma indireta, uma vez que sua formação e disseminação da região teve grande influência da Igreja.
Latifúndio escondia guerrilheiros
Quem viveu na clandestinidade em Crateús tem, de algum modo, uma dívida com a família de José Ferreira, falecido em 1997, um fazendeiro que abrigava militantes procurados pela repressão militar e apoiava membros das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Um homem rico, latifundiários, com mais de 1000 hectares de terra, rompido com comerciantes, fazendeiros e as oligarquias políticas tradicionais.
O pai, José Ferreira, era um dos fazendeiros que davam apoio aos guerrilheiros escondidos na serra. Havia a própria irmã, Alzira, envolvida diretamente com ações revolucionárias na célula de Novo Oriente e São Miguel do Tapuio, Augustinha, que atuava na retaguarda, atuando nos contatos entre a Igreja e as lideranças camponesas e mais um irmão, Roseno, preso no Congresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo.

Judite levava as correspondências
De certo modo, toda a família de Judite Maria Melo Correia Lima estava comprometida com a resistência mantida a partir da Diocese de Crateús. O seu papel não era o menos importante. A participação não se restringia a logística. “Muitas vezes, era eu quem ia aos médicos. Dizia ao doutor os sintomas de uma das pessoas do grupo e, conforme a prescrição médica, repassava, os medicamentos para as pessoas doentes”, lembra. Os subterfúgios, como salienta, eram mais do que necessários porque a exposição pública dos clandestinos poderia resultar em prisões e no desmantelamento dos aparelhos.
Judite, hoje com 64 anos, vive com a mãe Maria, com 90 anos, que diz nunca ter sabido realmente quais as participações políticas da família, porque o marido José Ferreira, a poupava. No entanto, não deixava de intuir e também de colaborar com os refugiados na fazenda Tourão.
No reencontro com Eloísio, Judite relembra os tempos em atuava como “pombo correio”. Cabia a ela levar correspondência para os “subversivos”. Sua ação incluía trajetos de Fortaleza, ou onde residiam os familiares de homens e mulheres foragidos, a Crateús. Um dos artifícios que recorria para confundir as blitze policiais era levar cartas dentro de uma garrafa térmica. Primeiro retirava o tubo térmico e acondicionava as correspondência. Em seguida, voltava a repor o tubo adequadamente.
Uma outra função era ouvir e transcrever os noticiários das rádios BBC, Londres, e Tirana, da Albânia, que falava sobre a efervecência política do Brasil e não divulgada nos veículos de comunicação nacionais. Muitas dessas informações foram utilizadas em jornais e folhetos apócrifos que circulavam por toda a Região do Crateús.
Um desses documentos dava conta das operações militares no Araguaia, nos tempos em que a imprensa limitava-se a informar que o Exército agia contra contrabandistas acoitados no Sul do Pará.
Os folhetos, no entanto, ousavam falar a verdade. “Notícias provindas de diversas fontes, entre as quais pessoas chegadas do Norte, dão conta de que se verificam graves conflitos naquela região. Várias cidades às margens dos rios Araguaia e Tocantins acham-se sob controle das Forças Armadas. Moradores locais têm sido presos e submetidos a vexames e maus tratos. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) denunciou que, na Vila de Palestina, município de São João do Araguaia, o padre Roberto e a irmã Maria das Graças foram seviciados barbaramente por militares, sob o pretexto de que tinham semelhanças fisionômicas com elementos cabeças de grupos guerrilheiros”, dizia um desses folhetos, ainda hoje guardados pela família de José Ferreira.
Judite diz que toda a família sofreu pelo socorro e até adesão aos movimentos políticos de oposição ao regime. No entanto, não tem nenhum arrependimento. Para ela, havia no passado muito mais compromisso das esquerdas do que atualmente.
“Naquela época, éramos muitos comprometidos e não tínhamos medo. Estávamos muito seguros do que queríamos fazer. Foi a própria repressão que nos ensinou a termos uma unidade, pois tínhamos que nos defender. Havia também muita discussão e muita visão. Ou seja, o que acontecia em Tirana, nós nos informávamos e tirávamos lições para a nossa luta”, diz.
Padre critica postura da Igreja
O padre Geraldo Pinheiro Peixoto, ex-pároco de Novo Oriente, conhecido por padre Geraldinho, era o homem de ligação entre a Igreja Católica e os movimentos organizados de camponeses, com infiltrações do PCdoB. Ele foi preso, torturado e hoje está afastado das funções de pároco de Nova Russas. Ele diz que nem mesmo a ditadura lhe fez maior mal do que a Igreja Católica. “Minha vocação sempre foi ser padre. Ser afastado e caluniado pelos meus companheiros do clero foi muito pior do que me fez a ditadura”, reclama.
Hoje, padre Geraldo é diretor do Museu Municipal de Nova Russas e se diz um homem com a fé abalada, principalmente no tocante à piedade. No entanto, não deixa de se dedicar aos estudos, publicar livros e afirma que não interrompeu sua luta contra o capitalismo.
Para ele, foi terrível para o mundo o fim da União Soviética. Com ela, acredita que não haveria a invasão do Iraque, como exemplo. Abaixo, trechos do seu depoimento pessoal sobre a prisão e tortura pela Polícia Federal, em Natal. “Eu era vigário de Novo Oriente. Recebi uma comunicação , a pedido do padre Moacir, vigário de Aratuba, da Arquidiocese de Fortaleza, para substituí-lo em um encontro das CEBs, em Recife. Mesmo com compromissos de festas religiosas, no interior da paróquia, aceitei participar do evento, sobretudo, como solidariedade a um colega a quem muito estimava. Viajei a Recife na lembrança e compromisso de logo retorna a Crateús participar do Retiro do Clero que já se avizinhava,” conta.
No relato de padre Geraldinho, foram três dias de encontro, em Recife. No último dia, teve que se despedir dos participantes a fim de viajar para Crateús. Como o tempo era exíguo teve que tomar um avião no trecho Natal-Fortaleza. De Recife a Natal, viajou de ônibus. Chegando a Natal à noite, teve que procurar o aeroporto, pois a viagem de ônibus a Fortaleza, levaria muito tempo, o que o impediria de chegar a tempo para o Retiro do Clero.
“Quando cheguei à agência de passagens aéreas, senti falta de minha carteira de identidade. Só depois, já preso, descobri que minha identidade havia sido roubada de minha bolsa, no quarto de hospedagem, no encontro de Recife. É que havia um espião, a serviço da ditadura, infiltrado naquele evento. E mais ao sair, recebi um pacote, tipo jornais, para ser entregue a um padre francês, residente no Seminário da Prainha”, relembra.
Chegando ao aeroporto, apresentou-se ao balcão para o embarque. Veio então um agente da Polícia Federal e retirou de sua bagagem os jornais que tinham o título de “Círculo”. Foi dada, então, ordem de prisão. “Não me torturaram fisicamente, é verdade, mas, sim, psicologicamente. Depois tentaram denegrir minha imagem, afirmando que eu acusara pessoas. Por tanto, os danos morais causados à minha pessoa aniquilariam toda e qualquer pessoa ao ser apresentado pela ditadura, como “Pombo Correio” e delator. Isso não tem dinheiro que pague”, assevera padre Geraldinho.
Fonte: jornal Diário do Nordeste, do Ceará
Cearenses sentem orgulho de terem lutado com comunistas

Doutor Gonçalo: "chegamos a praticar exercícios militares"
Entre os sobreviventes dos focos de resistência da Diocese de Crateús, está José Gonçalo, conhecido por doutor Gonçalo. Ele é semi-alfabetizado e o nome de doutor provém do fato da grande inteligência prática, para consertos de produtos eletrônicos, conhecimentos adquiridos como autodidata.
Doutor Gonçalo foi um dos recrutados por Eloísio e ainda hoje se mantém na luta pela consolidação do PCdoB na região e se diz materialista. Curiosamente, quem o recrutou, Eloísio, passou a acreditar e tomar decisões individualistas. No reencontro, Eloísio já não pôde mais convencer o antigo camponês sobre o que seria melhor para ele.
Doutor Gonçalo fala do passado com orgulho e com a consciência de que fez o melhor para si e para o coletivo. Naquela época, o PCdoB contava com um comitê na Região de Crateús, embora clandestino. Os contatos de recrutamento em Novo Oriente aconteciam através de ativistas de Fortaleza, principalmente com o movimento estudantil. Os mais estreitos laços eram com Lúcio, chamado de Júlio, professor Oliveira e, principalmente, o Eloísio (Pedro) e com o Vladimir Pomar (Zé Alves).
“Houve um momento que acreditamos que a saída era a luta armada. Chegamos a praticar exercícios militares. Por sinal, pouco tempo depois, formou-se a guerrilha de Conceição do Araguaia. Foi um período em que o partido praticamente desapareceu aqui de Novo Oriente”, lembra doutor Gonçalo.
Um dos principais pontos de resistência, conforme lembra doutor Gonçalo, foi a construção de túnel em Dois Irmãos, distrito de Novo Oriente, na subida da terra, que deveria ser utilizado com esconderijo de armas, alimentos, água e até mesmo de militantes, diante de uma perseguição intensiva da repressão militar.
Conforme lembra, havia uma crença forte de que a revolução poderia acontecer, de forma conseqüente, se fosse do campo para a cidade. No entanto, reconhece que houve precipitação. “A gente acreditava porque não via uma outra saída. O Partido também agia com esse pensamento. Da forma que a gente é educado é a forma que se coloca em ação”, diz.
Durante a perseguição política, o que lembra como o mais grave foi a prisão do padre Geraldinho, uma ação traumática, que fez todas as pessoas do grupo a passarem dias na clandestinidade e a temer pela própria vida. “Depois disso, houve a prisão de um cunhado meu, torturado com o choque e nós escapamos nos escondendo. Nós estávamos preparados para morrer ou matar“, diz.
Doutor Gonçalo conheceu o partido, depois que os estudantes de Fortaleza chegaram a Crateús, com o ideal de se iniciarem na luta armada. Ele admite que de todos os focos, o mais organizado aconteceu em Novo Oriente.
O sucesso das ações, conforme observa, foi resultado muito mais das normas de segurança, em que até mesmo dom Fragoso, desconhecia o que se realmente discutia e se fazia naquele município. “Nós trabalhávamos com muita segurança e a Igreja não sabia quem era do partido. Isso também decorria do fato de que estávamos misturados com o povo, éramos do povo”, avalia.
Doutor Gonçalo diz, no entanto, que dom Fragoso contribuiu fortemente com o PCdoB e o seu ideário, mesmo de forma indireta, uma vez que sua formação e disseminação da região teve grande influência da Igreja.
Latifúndio escondia guerrilheiros
Quem viveu na clandestinidade em Crateús tem, de algum modo, uma dívida com a família de José Ferreira, falecido em 1997, um fazendeiro que abrigava militantes procurados pela repressão militar e apoiava membros das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Um homem rico, latifundiários, com mais de 1000 hectares de terra, rompido com comerciantes, fazendeiros e as oligarquias políticas tradicionais.
O pai, José Ferreira, era um dos fazendeiros que davam apoio aos guerrilheiros escondidos na serra. Havia a própria irmã, Alzira, envolvida diretamente com ações revolucionárias na célula de Novo Oriente e São Miguel do Tapuio, Augustinha, que atuava na retaguarda, atuando nos contatos entre a Igreja e as lideranças camponesas e mais um irmão, Roseno, preso no Congresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo.

Judite levava as correspondências
De certo modo, toda a família de Judite Maria Melo Correia Lima estava comprometida com a resistência mantida a partir da Diocese de Crateús. O seu papel não era o menos importante. A participação não se restringia a logística. “Muitas vezes, era eu quem ia aos médicos. Dizia ao doutor os sintomas de uma das pessoas do grupo e, conforme a prescrição médica, repassava, os medicamentos para as pessoas doentes”, lembra. Os subterfúgios, como salienta, eram mais do que necessários porque a exposição pública dos clandestinos poderia resultar em prisões e no desmantelamento dos aparelhos.
Judite, hoje com 64 anos, vive com a mãe Maria, com 90 anos, que diz nunca ter sabido realmente quais as participações políticas da família, porque o marido José Ferreira, a poupava. No entanto, não deixava de intuir e também de colaborar com os refugiados na fazenda Tourão.
No reencontro com Eloísio, Judite relembra os tempos em atuava como “pombo correio”. Cabia a ela levar correspondência para os “subversivos”. Sua ação incluía trajetos de Fortaleza, ou onde residiam os familiares de homens e mulheres foragidos, a Crateús. Um dos artifícios que recorria para confundir as blitze policiais era levar cartas dentro de uma garrafa térmica. Primeiro retirava o tubo térmico e acondicionava as correspondência. Em seguida, voltava a repor o tubo adequadamente.
Uma outra função era ouvir e transcrever os noticiários das rádios BBC, Londres, e Tirana, da Albânia, que falava sobre a efervecência política do Brasil e não divulgada nos veículos de comunicação nacionais. Muitas dessas informações foram utilizadas em jornais e folhetos apócrifos que circulavam por toda a Região do Crateús.
Um desses documentos dava conta das operações militares no Araguaia, nos tempos em que a imprensa limitava-se a informar que o Exército agia contra contrabandistas acoitados no Sul do Pará.
Os folhetos, no entanto, ousavam falar a verdade. “Notícias provindas de diversas fontes, entre as quais pessoas chegadas do Norte, dão conta de que se verificam graves conflitos naquela região. Várias cidades às margens dos rios Araguaia e Tocantins acham-se sob controle das Forças Armadas. Moradores locais têm sido presos e submetidos a vexames e maus tratos. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) denunciou que, na Vila de Palestina, município de São João do Araguaia, o padre Roberto e a irmã Maria das Graças foram seviciados barbaramente por militares, sob o pretexto de que tinham semelhanças fisionômicas com elementos cabeças de grupos guerrilheiros”, dizia um desses folhetos, ainda hoje guardados pela família de José Ferreira.
Judite diz que toda a família sofreu pelo socorro e até adesão aos movimentos políticos de oposição ao regime. No entanto, não tem nenhum arrependimento. Para ela, havia no passado muito mais compromisso das esquerdas do que atualmente.
“Naquela época, éramos muitos comprometidos e não tínhamos medo. Estávamos muito seguros do que queríamos fazer. Foi a própria repressão que nos ensinou a termos uma unidade, pois tínhamos que nos defender. Havia também muita discussão e muita visão. Ou seja, o que acontecia em Tirana, nós nos informávamos e tirávamos lições para a nossa luta”, diz.
Padre critica postura da Igreja
O padre Geraldo Pinheiro Peixoto, ex-pároco de Novo Oriente, conhecido por padre Geraldinho, era o homem de ligação entre a Igreja Católica e os movimentos organizados de camponeses, com infiltrações do PCdoB. Ele foi preso, torturado e hoje está afastado das funções de pároco de Nova Russas. Ele diz que nem mesmo a ditadura lhe fez maior mal do que a Igreja Católica. “Minha vocação sempre foi ser padre. Ser afastado e caluniado pelos meus companheiros do clero foi muito pior do que me fez a ditadura”, reclama.
Hoje, padre Geraldo é diretor do Museu Municipal de Nova Russas e se diz um homem com a fé abalada, principalmente no tocante à piedade. No entanto, não deixa de se dedicar aos estudos, publicar livros e afirma que não interrompeu sua luta contra o capitalismo.
Para ele, foi terrível para o mundo o fim da União Soviética. Com ela, acredita que não haveria a invasão do Iraque, como exemplo. Abaixo, trechos do seu depoimento pessoal sobre a prisão e tortura pela Polícia Federal, em Natal. “Eu era vigário de Novo Oriente. Recebi uma comunicação , a pedido do padre Moacir, vigário de Aratuba, da Arquidiocese de Fortaleza, para substituí-lo em um encontro das CEBs, em Recife. Mesmo com compromissos de festas religiosas, no interior da paróquia, aceitei participar do evento, sobretudo, como solidariedade a um colega a quem muito estimava. Viajei a Recife na lembrança e compromisso de logo retorna a Crateús participar do Retiro do Clero que já se avizinhava,” conta.
No relato de padre Geraldinho, foram três dias de encontro, em Recife. No último dia, teve que se despedir dos participantes a fim de viajar para Crateús. Como o tempo era exíguo teve que tomar um avião no trecho Natal-Fortaleza. De Recife a Natal, viajou de ônibus. Chegando a Natal à noite, teve que procurar o aeroporto, pois a viagem de ônibus a Fortaleza, levaria muito tempo, o que o impediria de chegar a tempo para o Retiro do Clero.
“Quando cheguei à agência de passagens aéreas, senti falta de minha carteira de identidade. Só depois, já preso, descobri que minha identidade havia sido roubada de minha bolsa, no quarto de hospedagem, no encontro de Recife. É que havia um espião, a serviço da ditadura, infiltrado naquele evento. E mais ao sair, recebi um pacote, tipo jornais, para ser entregue a um padre francês, residente no Seminário da Prainha”, relembra.
Chegando ao aeroporto, apresentou-se ao balcão para o embarque. Veio então um agente da Polícia Federal e retirou de sua bagagem os jornais que tinham o título de “Círculo”. Foi dada, então, ordem de prisão. “Não me torturaram fisicamente, é verdade, mas, sim, psicologicamente. Depois tentaram denegrir minha imagem, afirmando que eu acusara pessoas. Por tanto, os danos morais causados à minha pessoa aniquilariam toda e qualquer pessoa ao ser apresentado pela ditadura, como “Pombo Correio” e delator. Isso não tem dinheiro que pague”, assevera padre Geraldinho.
Fonte: jornal Diário do Nordeste, do Ceará
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Artigos
A PATRIA QUE TORTURAVA V
35 anos de histórias da Guerrilha do Araguaia
Neste dia 12 de abril em que comunistas, simpatizantes, progressistas e todos aqueles que procuram conhecer a história recente do Brasil celebram os 35 anos da batalha conhecida como Guerrilha do Araguaia, a jornalista Myrian Luiz Alves resgata algumas histórias e personagens deste episódio marcante da história brasileira e faz uma avaliação particular do relatório elaborado recentemente pela Comissão que busca resgatar os corpos dos guerrilheiros mortos durante a Guerrilha.
Em memória dos irmãos mineiros-cariocas Ciro Flávio e Caio Márcio Salazar e Oliveira. Estudante de arquitetura, artista plástico e surfista, Flávio tombou com Juca e Gil no Araguaia, em 30 de setembro de 1972. Caio Márcio faleceu de câncer, em dezembro de 2006, no Rio de Janeiro. Seu grande orgulho, dizia, eram os 69 componentes da Guerrilha. Simpatizante da luta do movimento estudantil contra a ditadura, despediu-se de seu irmão em Campo Grande. Hoje, os filhos de Caio querem lutar pela história e obra do tio, autor do documento “Carta aos Meus Pais”, “vazado” pelo general Antonio Bandeira.
por Myrian Luiz Alves, jornalista, pesquisadora
Neste dia 12 de abril, comunistas, simpatizantes, progressistas e todos aqueles que procuram conhecer a história recente do Brasil relembram a batalha conhecida como Guerrilha do Araguaia.
Há 35 anos, a região sudeste do Pará, o norte do atual estado do Tocantins, o sul do Maranhão, áreas do Mato Grosso, grandes cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo viram cidadãos serem caçados a ferro e fogo porque ousaram enfrentar o poder de Estado. A audácia era o pensar.
É esse e não outro o motivo principal da ação desencadeada em 28 de março de 1972, e não no dia 12 de abril, por agentes da Marinha e do Exército. Haviam detectado, após pelo menos dois anos de procura, a presença de militantes do Partido Comunista do Brasil em área amazônica.
De uma noite para outra, milhares de militares transformaram a pacata realidade de pelo menos dez povoados e municípios da região, no cenário dantesco de uma vida entre o purgatório e o inferno. Isso duraria até janeiro de 1975 e também nos anos vindouros, porque a região se transformaria em palco de conflitos de terra e de garimpo.
Àquela área do Norte, o PCdoB enviara, desde 1966, vários militantes e dirigentes. Da mesma forma, outros militantes e dirigentes viveram por muitos anos clandestinamente em muitas cidades do interior dos estados do Ceará, Piauí e Rondônia. São muitas as histórias ainda não relatadas. Para a região do Araguaia, havia retaguardas e portas de entrada, por exemplo, no Maranhão, áreas também receptivas aos militantes da Ação Popular, Var-Palmares, Ação Libertadora Nacional, remanescentes de Trombas e Formosa (GO), além da antiga militância local, ligada ao PCdoB e ao Partido Comunista Brasileiro.
A primeira ação de fato militar na região sudeste do Pará seria a Operação Carajás, em Marabá (PA), hoje a terceira maior cidade do estado, ainda em 1970. Bombas napalm foram jogadas na praia de Tucunaré, bem em frente à parte pioneira da cidade dos antigos castanhais. Fundada no final do século 19 por remanescentes da ex- Boa Vista do Tocantins (então estado de Goiás), após uma guerra cujo motivo era a educação dos meninos e meninas, a partir de um barraco armado às margens do rio Tocantins, o nome Marabá é em homenagem a um poema de Gonçalves Dias. Nele, o maranhense lembra que “todos somos Marabá”, “filhos do pecado”, segundo a lenda entranhada por missionários nas matas do Maranhão. A história serviria para contrariar a crença dos primeiros “grimpeiros” (garimpeiros) na deusa Marabá, responsável pela defesa desses trabalhadores contra as flechas dos índios.
O direito de ir e vir em seu País
Quando, em 1966, Osvaldo Orlando da Costa pisou em terras paraenses sentiu-se em casa. Era região de minério, de ouro e diamantes. Estudara o tema na Tchecoslováquia e nas minas da Chapada Diamantina (BA). Paulo Mendes Rodrigues, economista, quadro gaúcho do partido, instalara-se na área de Conceição do Araguaia (PA). Um antigo militante, Zé Francisco é um dos seus contatos, em São Geraldo (PA). Logo, Paulo receberia o operário e jogador de futebol Daniel Ribeiro Callado, o Doca. Em 1967, Osvaldão e Manuel José Nurchis, quadro paulistano do PCdoB, garimpavam juntos nas minas do Itamirim (PA). Daniel trabalhava na loja de Paulo, que, além de possuir um barco, viveria sempre como patrão na área da futura guerrilha. Fazendeiro de meia, auxiliar das contas dos moradores, ajudou a formar, como se vê por lá, quadros atuais da política regional. Seria, posteriormente, o primeiro comandante do Destacamento C, mais próximo à São Geraldo (PA) e Xambioá (TO). Entre Conceição, São Geraldo e Xambioá, Paulo é o nome mais conhecido da Guerrilha. Políticos da direita o procuravam para apoio político, o que “ele negava”, afirmam até hoje antigos sindicalistas rurais.
No natal de 1967, o município de São João do Araguaia (TO), onde as águas do tributário Araguaia se encontram com o rio Tocantins, recebeu o jovem ítalo-brasileiro Líbero Giancarlo Castiglia e a dirigente Elza Monerat. A tia Maria, do Joca. Logo, aportava também na localidade de Faveira, Maurício Grabois, o Mário. Neste local, onde constituiriam um pequeno comércio, parte do comitê central do PCdoB, passaria a organizar a área que poderia ou não transformar-se em palco de uma luta contra o Estado, e desta vez, realmente de farda, não mais como acontecera durante o Estado Novo, em delegacias policiais, a mando de Filinto Miller. Ex-integrante da Coluna Prestes, Miller era raivoso em sua perseguição, tortura e morte aos antigos companheiros, alguns, já na década de 1930, militantes comunistas.
Após a barbárie contra jovens e militantes experientes de esquerda nas cidades, entre o final da década de 1960 e o início da de 1970, militantes comunistas e da juventude católica são perseguidos em áreas rurais. O pouco desenvolvido interior do Maranhão era uma área fértil para o trabalho de base. Em 1971, a Operação Mesopotâmia é desencadeada em Porto Franco, Imperatriz e outras cidades do sul maranhense.
Franco, porque sempre permitiu a entrada de rebeldes rurais goianos, o município de caráter político progressista, e também com influência da maçonaria, viu passar muitas lutas, desde aquela contra o padre João, na época do Império, que fechou as escolas criadas por maranhenses em Boa Vista, atual Tocantinópolis, cidade de frente a Porto Franco. Em 1967, João Carlos Haas Sobrinho, o futuro comandante Juca, fundaria o primeiro e único hospital de todos aqueles povoados e municípios do sul do Maranhão e norte de Goiás. Em frente à sua casa, na rua Rio Branco, moraram também Mário, Zé Carlos e Gilberto, vendedores de quinquilharias para cozinha, como fogões de duas bocas e panelas de alumínio. Entre 1967 e final de 1968, o ex-líder da bancada comunista na Assembléia Constituinte, Maurício Grabois, divertia-se, nas horas vagas, cortando o cabelo dos meninos de Porto Franco, tarefa que também desempenharia na Guerrilha, já como o comandante-geral Mário. Seu filho, Zé Carlos (André), treinava todo dia às 15h um futebol perto das margens do rio Tocantins com os jovens da cidade. No intervalo, atravessavam a nado até uma ilha e tiravam a seqüência da partida. Gilberto Olímpio Maria, o melhor no futebol, que às vezes contava com o doutor João Carlos, era o que menos permanecia na cidade. Tinha um Jeep e não disfarçava que era intensamente paquerado por algumas mulheres da região. Era um homem atraente, lembrava o Eder Jofre, famoso no boxe daqueles tempos.
A Mesopotâmia, porém, não registra a presença de nenhum desses quase ilustres moradores, que deixariam memória e amizade. O doutor João fez história, é reconhecido e admirado por gerações que nem o conheceram. Aquelas que com ele conviveram também não permitem esquecer. Seu nome será o Ponto de Cultura e o Centro Desportivo da cidade, que, há alguns anos, dedicou o centro cirúrgico do hospital municipal em sua homenagem. O hospital de São João do Paraíso, ex-distrito de Porto Franco, hoje município, recebeu também o nome do primeiro médico-cirurgião.
O gaúcho de São Leopoldo fez muito por merecer, no Maranhão e no Pará, além do Rio Grande do Sul, onde presidiu a União dos Estudantes Gaúcha em 1964, ano de sua formatura em medicina. Em Porto Franco, sua ex-auxiliar, dona Dejacir, disse a esta pesquisa que “O doutor João Carlos podia não acreditar em Deus, mas Deus acreditava nele”.
João Amazonas lembrou também a esta pesquisa, por telefone, em 2001, que os companheiros chamaram a atenção de Juca, por ele ter o hábito de não pensar duas vezes antes de socorrer alguém, mesmo que isso colocasse em perigo a situação dos companheiros, na região do Pará. Afinal, ao sair de Porto Franco, o doutor João Carlos adquirira fama num extensa área a apenas 150 quilômetros de São Geraldo, onde Juca moraria com o fazendeiro Paulo e, futuramente, com o ex-vice-presidente do Diretório Acadêmico da Universidade Federal do Ceará, Bérgson Gurjão Farias, o Jorge, futuro líder do grupo Esperancinha, do C. Sabendo que ele teria sempre a medicina em primeiro lugar, Juca recebeu a instrução para ser apenas “enfermeiro”. Poucos dias após sua chegada, porém, dizia Amazonas, o comandante médico-militar da guerrilha já era chamado de “doutor Juca”.
Logo, chegariam Dinalva Oliveira Teixeira, a Dina, e Antonio Carlos Monteiro Teixeira, na área do C, em São Geraldo, onde também moraraia posteriormente o casal Arildo Valadão e Áurea Elisa Pereira. Um grande amigo de Dina, ainda da Bahia, Rosalindo Souza, optou por montar base de apoio, o chamado PA, na área periférica daquele povoado. Entre 1969 e abril de 1972, muitos outros militantes passaram a compor os destacamento A, B e C.
O A baseava-se entre Marabá e São Domingos, interiorizando-se para São João e Brejo Grande, antes da Palestina, região do B. Por sua riqueza natural, embora com as mazelas das doenças tropicais, uma população razoável morava nas matas. O sudeste do Pará, com seus castanhais e água farta pelos igarapés e rios, passara, então, a ser refúgio e área de preparo contra a ação anticomunista e imperialista, responsável, pelo assassinato, prisão e tortura, durante as décadas de 1950 e 1960, de centenas de comunistas e socialistas no Caribe e na América Central. Em algum momento, sabiam os militantes, a repressão chegaria por lá.
Não havia, naquele momento, razão segura para seguir para os grandes centros. A tática imperialista, alicerçada na Operação Condor, na América do Sul, principalmente, era a de “eliminação” de comunistas, como afirma o relatório da Operação Marajoara, em março de 1974. A decisão incluía a morte do PCdoB e da AP. Em 1975, muitos militantes do Partido Comunista Brasileiro, que se posicionava contra a luta armada, também seriam perseguidos e mortos.
A perpetuação da História e seus personagens
Na belíssima região do Araguaia, os militantes do PCdoB, em sua maioria, moraram pelo menos um ano e meio antes do início dos conflitos. Alguns estavam ali há seis, cinco e quatro anos. Embora todos os 69 componentes do contingente guerrilheiro sejam ainda lembrados por onde moraram, alguns têm fama em toda a região dos combates e de bases militares, como em Xambioá e Marabá.
Ao lado de Osvaldo e Juca, a guerrilheira Dina é uma das histórias mais contadas. Mas, na área do C, Áurea, estudante de Física, como seu companheiro Ari, também é muito conhecida. Áurea reforçava a matemática em aulas para muitas crianças, hoje adultas. Dina, geóloga, foi “mãe de pegação” de paraenses que hoje procuram fotografias para conhecer o rosto de quem os ajudou a vir ao mundo.
Os relatórios militares, os oficiais, de 1972, dizem: a população se nega a prestar quaisquer informações que possam prejudicar Dina e Juca. O sentimento é de gratidão. Registram a disputa de comando do C entre Dina e Paulo. Dinalva, ainda militante do movimento estudantil, era considerada “atirada”, como lembram suas companheiras da Bahia. O casamento de Dina e do geólogo Antonio Carlos terminou logo que os dois chegaram à região. Ali, nascia uma paixão entre Dina e Gilberto Olímpio Maria, o Pedro, amor que se tornou público entre os componentes da guerrilha e familiares dos dois nas cidades. Os tempos ainda permitiam a comunicação.
Nos últimos seis anos, a Guerrilha do Araguaia despertou o interesse de pesquisadores, jornalistas e estudantes. Todos, de uma maneira geral, procuram personagens, fato normal para o estudo de episódios épicos realizados por indivíduos ou por um grupo, um coletivo. A Guerrilha do Araguaia é algo épico, diferente e inédito na história do Brasil. Pessoas, de diferentes classes sociais e de estados brasileiros, dirigiram-se a uma área então inóspita para o tudo ou o nada. A grande maioria daqueles militantes, porém, acreditava que aquilo seria o tudo, pelo menos naquele momento, para lutar por um futuro melhor. Não havia oportunidades para a ação política nas cidades e ali seria possível, se assim acontecesse, provar que a perseguição imperialista ao pensamento de esquerda era algo real.
Foram quase três anos de guerra, e de operações de infiltração de agentes na região e no seu entorno. Na área da guerrilha, alguns dos agentes militares por ali permaneceriam, como o major Curió – Sebastião Rodrigues de Moura – que utilizaria por muitos anos sua fama no combate aos guerrilheiros para transformar-se no “rei” do sudeste do Pará. Foi o interventor do ouro em Serra Pelada (PA), comandou a expulsão de padres franceses na região, atuou em conflitos de terra, como em Encruzilhada Natalino (RS), no Grupo de Terras Araguaia-Tocantins (Getat), e por aí vai. Há pouco tempo, disse ao jornal New York Times que é conhecido, em Brasília, como o Kurtz do Amazonas (em alusão ao personagem Kurts, do livro Coração nas Trevas, de Joseph Conrad).
Tem o costume de contar o tiro que levou de Lucia Maria (Sonia) e o combate do natal de 1973, quando teriam tombado Maurício e outros companheiros, mas nunca apontou seus túmulos. Também nunca foi chamado oficialmente a dizer como morreram e onde estariam seus corpos.
Arildo foi morto em outubro de 1973, no início da Operação Marajoara, como Sonia, André, Divino Ferreira de Souza, João Gualberto e Alfredo. Rosalindo foi morto “por forças de segurança” em agosto de 1973, quando ainda estava em andamento a Operação Sucuri, comandada em campo por Curió, operação que antecedeu a Marajoara, de combate e execução. Essa afirmação está contida em relatório do Exercito entregue ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em 1993. Os três ministros militares daquele ano entregaram relatórios com datas de mortes e outras informações sobre os 144 “desaparecidos” no Brasil. Fica claro que, em 1993, não havia ocorrido a tal “queima de arquivos” porque são informações resumidas, obviamente copiadas de pastas individuais de militantes de esquerda. Então, quando teria ocorrido a queima?
Esta pesquisadora, em 2001, reuniu os dados desses relatórios referentes à Guerrilha do Araguaia. O propósito era auxiliar a Expedição Antígona, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, coordenada pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. O cruzamento dessas informações foi repassado publicamente a pesquisadores, familiares e jornalistas.
Também a pesquisa cruzou dados dos grupos de direitos humanos e de matérias de imprensa. Foram confeccionados dois relatórios e um roteiro de busca de corpos, baseado em informações da caravana de 1980, do trabalho do advogado Paulo Fontelles e de seu filho, Paulinho Fontelles, também pesquisador.
Curiosamente, são esses os dados que permeiam o relatório entregue publicamente em 28 de março de 2007 pela Comissão Interministerial criada em 2003 pela presidência da República para a busca de informações sobre a Guerrilha do Araguaia. A Comissão manteve, inclusive, a numeração feita pela pesquisa. O relatório da Comissão, após anexar partes de documentos do Ministério Público e de uma diligência à região, sem acompanhamento público, para a busca de corpos, em época de chuva, ação singelamente criticada pela Polícia Federal que assina a diligência, conclui por tópicos já pronunciados na sentença da juíza Solange Salgado, de 2003, e do desembargador Souza Prudente, de 2004, ao processo dos familiares do Araguaia, aberto em 1982, pelos advogados Luiz Eduardo Greenhalgh e Sigmaringa Seixas.
O Araguaia é oficial
Desde 1996 relatórios oficiais e fotografias chegam às mãos de jornalistas e pesquisadores. As fontes são obviamente militares. O mérito aqui, se houver - relatório militar não é souvenir, tampouco o são fotografias de prisioneiros que “desapareceram”, como Daniel e Antonio de Pádua Costa, o último comandante do A -, é que o primeiro “vazamento” oficial de relatórios militares partiu do primeiro general de brigada da Guerrilha, Antonio Bandeira, ao O Globo, em 1996.
A partir daí, parentes de militares escrevem ou fornecem informações dadas por fontes “não reveladas”, inclusive em trabalhos universitários. Enquanto alguns militares ainda resolvem contar, vez ou outra, novas informações, como fez o major Curió ao Estado de S.Paulo, em 2004, ao dizer que Dina teria morrido em 24 de julho de 1974 (o relatório oficial de 1993 diz apenas o mês e o ano), o livro A Lei da Selva, de Hugo Studart, também autor de matéria publicada em março deste ano na revista BR História, afirma que Dina justiçou, por adultério, seu amigo e advogado baiano Rosalindo Sousa, porque ele teria um caso com Áurea. Observa-se em vários relatórios (Papagaio, Manobra, entre outros) a referência a Arildo como guerrilheiro ousado e corajoso, porque fustigava sentinelas nas barracas, onde entrava e pegava armas. O companheiro de Áurea foi morto na Operação Marajoara com um tiro no peito, em outubro de 1973, e decapitado. A barbárie contra Ari teria sido a primeira das degolas públicas por ação militar na guerrilha.
Rosalindo fora morto antes, em agosto, como afirma abaixo o relatório do Centro de Informação do Exército - CIE, responsável pela Operação Sucuri. Studart parece esquecer o que ele próprio afirma em seu livro: Osvaldo e Rosalindo chamavam a atenção para a presença de agentes na região. A Sucuri, findada em outubro de 1973, tinha por princípio não matar, apenas observar, com exceção de Osvaldo, que poderia ser morto, desde que se tivesse certeza de ser possível acertá-lo.
O relatório Arroyo diz que Rosalindo, o Mundico, poderia ter-se ferido com sua própria arma, mas não informa de onde teria vindo essa informação. Mundico mantinha-se como PA, embora tivesse posto de comando. Os militares dizem que encontram Mundico, enterram para depois retornarem e tirar sua cabeça para resolver a dúvida de que aquele corpo poderia ser o um soldado que havia sumido. Ou seja, Rosalindo fora confundido com um soldado, que, por sua vez, poderia ter sido morto em fogo amigo? Vale lembrar que vários militares morreram por fogo amigo, segundo relatórios que também fornecem nomes de alguns soldados feridos por suas próprias armas. No entanto, a exumação do corpo de Rosalindo mostra o “tratamento” dado por oficiais aos seus subordinados. Tirar a cabeça de um morto para tentar identificar um companheiro, um soldado do Estado?
Matar prisioneiro é crime
Dina e Áurea foram presas, em 1974. Com exceção de Lúcia Maria de Souza (Sônia) e Helenira Rezende (Fátima), do A, e das que foram aprisionadas em 1972, todas as mulheres guerrilheiras foram presas e mortas em 1974. O cálculo é de 25 prisioneiros em 1974. Todos foram posteriormente assassinados?
Também o que surpreende nos textos de Studart é a “informação” de que o sargento Joaquim Artur, o Ivan, seria o algoz de Dina, que, por sua vez, ainda teria travado um diálogo com ele sobre sua própria morte. Impressiona ainda mais saber que supostamente Ivan já teria morrido. Não poderia, portanto, confirmar ou contrariar essa acusação.
Desde 1980, com a primeira caravana de familiares ao Araguaia, sabe-se que Áurea foi enterrada no Cemitério de Xambioá. Em 2001, foi revelado à Expedição Antígona que Áurea teria sido fuzilada, após bastante tempo presa, vestida com um macacão da Aeronáutica. Levou um tiro no peito. Os que viram seu sepultamento jamais esqueceriam.
Vale lembrar que Ari estava vivo quando Rosalindo morreu. Fosse por um acerto de contas porque Ari precisaria de Dina? E porque Áurea seria poupada? E por que logo Dina, que lutou por sua liberdade e passou o último período da guerrilha combatendo como vice-comandante e sob o comando de Gilberto? Paulo fora transferido para o apoio à Comissão Militar.
Ora, na “desculpa” talvez preocupada de alguns militares, Maria Célia (Rosinha), presa na Bacaba, teria matado a facão, Antonio de Pádua, preso (Dest. A), e, por isso, “foi morta a tiros”. Antonio Teodoro (Raul) e Cilon da Cunha Brum (Simão), presos, foram mortos, dizem os relatórios de 1993, por “justiçamento” (nesse período os destacamentos B e C fundiram-se, os dois guerrilheiros pertenciam ao B). Eles teriam sido mortos “por ataques de terroristas”. Os relatos sobre a guerrilha mostram que, fosse Mundico justiçado, isso seria um grande trunfo para os militares na época, tanto para difundir informações contra os guerrilheiros como para o registro oficial. E isso, como se vê, não ocorreu.
Não havia apenas uma força militar na Guerrilha. Havia três, mais as policiais. Será que alguns militares não concordavam com a execução criminosa de prisioneiros? Não por coincidência, é a Marinha, força especialista na vigilância aos comunistas de todas as décadas anteriores, a que apresenta quase todas as datas de morte de prisioneiros, não o Exército. A Marinha teria mais informações que as outras forças? Ou porque tentaram exigir, pelo menos, um argumento, para a execução da ordem anticomunista? Embora não tenham “providenciado” um motivo “interno” às forças guerrilheiras para os assassinatos de Dina e Áurea, vários militares poderiam, a partir da sentença da Justiça, buscar, agora, alguma mancha para incriminar ou manchar a história de Dina. Por qual motivo?
Dina foi mulher competitiva e valente, cuja fama, hoje, incomoda aos que sabem terem manchado, na verdade, a história recente do Brasil. Prisioneiro não se mata. Um verdadeiro militar sabe que, além de crime de guerra, esse é o ápice da covardia. Não há diferença entre guerra e guerrilha nos regimentos militares. Não quanto ao tratamento de prisioneiros. E não há, obviamente, anistia para isso.
Dina, como Áurea e tantos outros participam e continuarão participando do imaginário social da região e da história do País. O povo viu Áurea morta e sepultada, como viu Juca, Jorge, Daniel, Osvaldo, Paulo e vários outros guerrilheiros no Cemitério de Xambioá. Seus familiares e também a história aguardam suas identificações, como ocorreu com Maria Lúcia Petit.
O povo, entretanto, não viu o corpo de Dina. No Araguaia e em muitos outros lugares do Brasil, incluindo Brasília, afirma-se que Dina não morreu. Quem virá a público dizer o contrário?
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Dados dos três relatórios entregues por ministros militares, em 1993, ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa.
54. Rosalindo Cruz Souza - Mundico
Filho de Ronaldo Cipriano de Souza e de Lindaura Correa de Souza, natural de CALDEIRÃO GRANDE/BA.
Advogado, militante do PCdoB, utilizava o codinome “MUNDICO” e participou da guerrilha do Araguaia, atuando no Grupo de Apoio na região de PAU PRETO. Consta que teria sido morto no dia 16 Ago 73, em combate com as forças de segurança (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheiro no Araguaia. Dado como morto por documento do Comitê Brasileiro pela Anistia, datado de Nov 79 e segundo declaração do Dep. Fed. JOSÉ GENOINO publicada na F. de São Paulo, 26 Jun 78. Neste Órgão, não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- NOV/74, relacionado entre os que estiveram ligados à tentativa de implantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá. Morto em SET 73 (MAR).
10. Áurea Eliza Pereira Valadão – Elisa/Áurea
Professora, casado com ARILDO VALADÃO.
Durante a guerrilha do Araguaia, chefiou um grupo de terroristas armados de revólveres cal 38 e espingardas cal 20 que participou em 04 Ago 73, de uma festa na Fazenda “Sapiência” (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheira no Araguaia. Segundo o noticiário de imprensa nos últimos 18 anos e documentos de entidades de defesa dos direitos humanos, teria sido morta ou desaparecido no Araguaia. Não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- NOV/74, relacionada entre os que estiveram ligados à tentativa de implantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá. Morta em 13 JUN 74 (MAR).
9. Arildo Valadão - Ari
Filho de Altino Andrada Valadão e de Helena Andrada Valadão, nascido em 28 Dez 48 e natural do Estado do Espírito Santo.
Utilizava-se dos codinomes “ARI” e “IVAN”.
Uma relação com o título “Mortos” na guerrilha do Araguaia, incluiu seu nome com o codinome “ARI” (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheiro no Araguaia. Segundo o noticiário de imprensa nos últimos 18 anos e documentos de entidades de defesa dos direitos humanos, teria sido morto ou desaparecido no Araguaia. Não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- MAI/72, foi reconhecido em fotografia, por um cabloco, como estando na região de Mutum.
- JUL/72, fez parte de um grupo de aproximadamente 15 militantes do PCdoB, que se deslocou da Guanabara à área de Xambioá.
- MAI/73, invadiu a fazenda “Paulista” em Xambioá/Araguaia, juntamente com um grupo de mantimentos e animais da citada fazenda. Além disto, fez um “Trabalho de Massa” com os lavradores que estavam por perto, convocando-os para a “Luta Pela Libertação”
- NOV/74, relacionado entre os que estiveram ligados à tentativa de im´plantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá. Morto em 24 NOV 74 (MAR)
18. Dinalva Oliveira Teixeira - Dina
Filha de Viriato Augusto de Oliveira e de Elza Conceição Bastos, nascida no dia 16 Mai 45, em CASTRO ALVES/BA.
Exercia a função de geóloga do DNPM, no RIO DE JANEIRO/RJ, até abril de 1970, quando abandonou o trabalho. Em 1972, foi identificada, por fotografia, por habitantes de XAMBIOÁ/GO, juntamente com seu esposo ANTONIO CARLOS MONTEIRO TEIXEIRA. Ambos atuavam na região de Terra Nova, como professores da Escola mantida pelos padres em SÃO FELIX DO ARAGUAIA/MT, entre junho e dezembro de 1971. Juntamente com “OSVALDÃO”, chefiava um grupo de guerrilheiros no ARAGUAIA, integrando o “Destacamento C”. Utilizava-se do codinome “DINA” e realizou várias ações de incursão para roubo de armas e mantimentos. Existem registros de que teria morto um informante das Forças Legais (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheira no Araguaia. Segundo o noticiário de imprensa nos últimos 18 anos e documentos de entidades de defesa dos direitos humanos, teria sido morto ou desaparecido no Araguaia. Não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- NOV/72, participou da guerrilha como integrante do PCdoB, na região de Xambioá. Nesta ocasião era tida como professora e enfermeira e atendia pelo nome de “Diomar''.
- JAN/73, foi notada sua presença em atividade subversiva, na região sul do Pará.
- MAR/73, entre os dias 30 JAN e 02 FEV/73, acompanhada por outros elementos, (DINA) percorreu várias casas de caboclos da região de “Pau Preto”, onde foi comprado arroz e distribuído um manifesto do “PC do B”, prometendo aos elementos da região que, após a derrubada do governo seriam instalados na mata escolas e hospitais. Na ocasião, foi notado que o grupo de “Dina” portava uma atravessada no peito que aparentava ser automática. A “Dina” comentou que o grupo estava preparado para vingar os companheiros mortos durante as operações militares ocorridas em SET/62.
- JUL/74, teria sido morta em Xambioá (MAR).
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=16201
Neste dia 12 de abril em que comunistas, simpatizantes, progressistas e todos aqueles que procuram conhecer a história recente do Brasil celebram os 35 anos da batalha conhecida como Guerrilha do Araguaia, a jornalista Myrian Luiz Alves resgata algumas histórias e personagens deste episódio marcante da história brasileira e faz uma avaliação particular do relatório elaborado recentemente pela Comissão que busca resgatar os corpos dos guerrilheiros mortos durante a Guerrilha.
Em memória dos irmãos mineiros-cariocas Ciro Flávio e Caio Márcio Salazar e Oliveira. Estudante de arquitetura, artista plástico e surfista, Flávio tombou com Juca e Gil no Araguaia, em 30 de setembro de 1972. Caio Márcio faleceu de câncer, em dezembro de 2006, no Rio de Janeiro. Seu grande orgulho, dizia, eram os 69 componentes da Guerrilha. Simpatizante da luta do movimento estudantil contra a ditadura, despediu-se de seu irmão em Campo Grande. Hoje, os filhos de Caio querem lutar pela história e obra do tio, autor do documento “Carta aos Meus Pais”, “vazado” pelo general Antonio Bandeira.
por Myrian Luiz Alves, jornalista, pesquisadora
Neste dia 12 de abril, comunistas, simpatizantes, progressistas e todos aqueles que procuram conhecer a história recente do Brasil relembram a batalha conhecida como Guerrilha do Araguaia.
Há 35 anos, a região sudeste do Pará, o norte do atual estado do Tocantins, o sul do Maranhão, áreas do Mato Grosso, grandes cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo viram cidadãos serem caçados a ferro e fogo porque ousaram enfrentar o poder de Estado. A audácia era o pensar.
É esse e não outro o motivo principal da ação desencadeada em 28 de março de 1972, e não no dia 12 de abril, por agentes da Marinha e do Exército. Haviam detectado, após pelo menos dois anos de procura, a presença de militantes do Partido Comunista do Brasil em área amazônica.
De uma noite para outra, milhares de militares transformaram a pacata realidade de pelo menos dez povoados e municípios da região, no cenário dantesco de uma vida entre o purgatório e o inferno. Isso duraria até janeiro de 1975 e também nos anos vindouros, porque a região se transformaria em palco de conflitos de terra e de garimpo.
Àquela área do Norte, o PCdoB enviara, desde 1966, vários militantes e dirigentes. Da mesma forma, outros militantes e dirigentes viveram por muitos anos clandestinamente em muitas cidades do interior dos estados do Ceará, Piauí e Rondônia. São muitas as histórias ainda não relatadas. Para a região do Araguaia, havia retaguardas e portas de entrada, por exemplo, no Maranhão, áreas também receptivas aos militantes da Ação Popular, Var-Palmares, Ação Libertadora Nacional, remanescentes de Trombas e Formosa (GO), além da antiga militância local, ligada ao PCdoB e ao Partido Comunista Brasileiro.
A primeira ação de fato militar na região sudeste do Pará seria a Operação Carajás, em Marabá (PA), hoje a terceira maior cidade do estado, ainda em 1970. Bombas napalm foram jogadas na praia de Tucunaré, bem em frente à parte pioneira da cidade dos antigos castanhais. Fundada no final do século 19 por remanescentes da ex- Boa Vista do Tocantins (então estado de Goiás), após uma guerra cujo motivo era a educação dos meninos e meninas, a partir de um barraco armado às margens do rio Tocantins, o nome Marabá é em homenagem a um poema de Gonçalves Dias. Nele, o maranhense lembra que “todos somos Marabá”, “filhos do pecado”, segundo a lenda entranhada por missionários nas matas do Maranhão. A história serviria para contrariar a crença dos primeiros “grimpeiros” (garimpeiros) na deusa Marabá, responsável pela defesa desses trabalhadores contra as flechas dos índios.
O direito de ir e vir em seu País
Quando, em 1966, Osvaldo Orlando da Costa pisou em terras paraenses sentiu-se em casa. Era região de minério, de ouro e diamantes. Estudara o tema na Tchecoslováquia e nas minas da Chapada Diamantina (BA). Paulo Mendes Rodrigues, economista, quadro gaúcho do partido, instalara-se na área de Conceição do Araguaia (PA). Um antigo militante, Zé Francisco é um dos seus contatos, em São Geraldo (PA). Logo, Paulo receberia o operário e jogador de futebol Daniel Ribeiro Callado, o Doca. Em 1967, Osvaldão e Manuel José Nurchis, quadro paulistano do PCdoB, garimpavam juntos nas minas do Itamirim (PA). Daniel trabalhava na loja de Paulo, que, além de possuir um barco, viveria sempre como patrão na área da futura guerrilha. Fazendeiro de meia, auxiliar das contas dos moradores, ajudou a formar, como se vê por lá, quadros atuais da política regional. Seria, posteriormente, o primeiro comandante do Destacamento C, mais próximo à São Geraldo (PA) e Xambioá (TO). Entre Conceição, São Geraldo e Xambioá, Paulo é o nome mais conhecido da Guerrilha. Políticos da direita o procuravam para apoio político, o que “ele negava”, afirmam até hoje antigos sindicalistas rurais.
No natal de 1967, o município de São João do Araguaia (TO), onde as águas do tributário Araguaia se encontram com o rio Tocantins, recebeu o jovem ítalo-brasileiro Líbero Giancarlo Castiglia e a dirigente Elza Monerat. A tia Maria, do Joca. Logo, aportava também na localidade de Faveira, Maurício Grabois, o Mário. Neste local, onde constituiriam um pequeno comércio, parte do comitê central do PCdoB, passaria a organizar a área que poderia ou não transformar-se em palco de uma luta contra o Estado, e desta vez, realmente de farda, não mais como acontecera durante o Estado Novo, em delegacias policiais, a mando de Filinto Miller. Ex-integrante da Coluna Prestes, Miller era raivoso em sua perseguição, tortura e morte aos antigos companheiros, alguns, já na década de 1930, militantes comunistas.
Após a barbárie contra jovens e militantes experientes de esquerda nas cidades, entre o final da década de 1960 e o início da de 1970, militantes comunistas e da juventude católica são perseguidos em áreas rurais. O pouco desenvolvido interior do Maranhão era uma área fértil para o trabalho de base. Em 1971, a Operação Mesopotâmia é desencadeada em Porto Franco, Imperatriz e outras cidades do sul maranhense.
Franco, porque sempre permitiu a entrada de rebeldes rurais goianos, o município de caráter político progressista, e também com influência da maçonaria, viu passar muitas lutas, desde aquela contra o padre João, na época do Império, que fechou as escolas criadas por maranhenses em Boa Vista, atual Tocantinópolis, cidade de frente a Porto Franco. Em 1967, João Carlos Haas Sobrinho, o futuro comandante Juca, fundaria o primeiro e único hospital de todos aqueles povoados e municípios do sul do Maranhão e norte de Goiás. Em frente à sua casa, na rua Rio Branco, moraram também Mário, Zé Carlos e Gilberto, vendedores de quinquilharias para cozinha, como fogões de duas bocas e panelas de alumínio. Entre 1967 e final de 1968, o ex-líder da bancada comunista na Assembléia Constituinte, Maurício Grabois, divertia-se, nas horas vagas, cortando o cabelo dos meninos de Porto Franco, tarefa que também desempenharia na Guerrilha, já como o comandante-geral Mário. Seu filho, Zé Carlos (André), treinava todo dia às 15h um futebol perto das margens do rio Tocantins com os jovens da cidade. No intervalo, atravessavam a nado até uma ilha e tiravam a seqüência da partida. Gilberto Olímpio Maria, o melhor no futebol, que às vezes contava com o doutor João Carlos, era o que menos permanecia na cidade. Tinha um Jeep e não disfarçava que era intensamente paquerado por algumas mulheres da região. Era um homem atraente, lembrava o Eder Jofre, famoso no boxe daqueles tempos.
A Mesopotâmia, porém, não registra a presença de nenhum desses quase ilustres moradores, que deixariam memória e amizade. O doutor João fez história, é reconhecido e admirado por gerações que nem o conheceram. Aquelas que com ele conviveram também não permitem esquecer. Seu nome será o Ponto de Cultura e o Centro Desportivo da cidade, que, há alguns anos, dedicou o centro cirúrgico do hospital municipal em sua homenagem. O hospital de São João do Paraíso, ex-distrito de Porto Franco, hoje município, recebeu também o nome do primeiro médico-cirurgião.
O gaúcho de São Leopoldo fez muito por merecer, no Maranhão e no Pará, além do Rio Grande do Sul, onde presidiu a União dos Estudantes Gaúcha em 1964, ano de sua formatura em medicina. Em Porto Franco, sua ex-auxiliar, dona Dejacir, disse a esta pesquisa que “O doutor João Carlos podia não acreditar em Deus, mas Deus acreditava nele”.
João Amazonas lembrou também a esta pesquisa, por telefone, em 2001, que os companheiros chamaram a atenção de Juca, por ele ter o hábito de não pensar duas vezes antes de socorrer alguém, mesmo que isso colocasse em perigo a situação dos companheiros, na região do Pará. Afinal, ao sair de Porto Franco, o doutor João Carlos adquirira fama num extensa área a apenas 150 quilômetros de São Geraldo, onde Juca moraria com o fazendeiro Paulo e, futuramente, com o ex-vice-presidente do Diretório Acadêmico da Universidade Federal do Ceará, Bérgson Gurjão Farias, o Jorge, futuro líder do grupo Esperancinha, do C. Sabendo que ele teria sempre a medicina em primeiro lugar, Juca recebeu a instrução para ser apenas “enfermeiro”. Poucos dias após sua chegada, porém, dizia Amazonas, o comandante médico-militar da guerrilha já era chamado de “doutor Juca”.
Logo, chegariam Dinalva Oliveira Teixeira, a Dina, e Antonio Carlos Monteiro Teixeira, na área do C, em São Geraldo, onde também moraraia posteriormente o casal Arildo Valadão e Áurea Elisa Pereira. Um grande amigo de Dina, ainda da Bahia, Rosalindo Souza, optou por montar base de apoio, o chamado PA, na área periférica daquele povoado. Entre 1969 e abril de 1972, muitos outros militantes passaram a compor os destacamento A, B e C.
O A baseava-se entre Marabá e São Domingos, interiorizando-se para São João e Brejo Grande, antes da Palestina, região do B. Por sua riqueza natural, embora com as mazelas das doenças tropicais, uma população razoável morava nas matas. O sudeste do Pará, com seus castanhais e água farta pelos igarapés e rios, passara, então, a ser refúgio e área de preparo contra a ação anticomunista e imperialista, responsável, pelo assassinato, prisão e tortura, durante as décadas de 1950 e 1960, de centenas de comunistas e socialistas no Caribe e na América Central. Em algum momento, sabiam os militantes, a repressão chegaria por lá.
Não havia, naquele momento, razão segura para seguir para os grandes centros. A tática imperialista, alicerçada na Operação Condor, na América do Sul, principalmente, era a de “eliminação” de comunistas, como afirma o relatório da Operação Marajoara, em março de 1974. A decisão incluía a morte do PCdoB e da AP. Em 1975, muitos militantes do Partido Comunista Brasileiro, que se posicionava contra a luta armada, também seriam perseguidos e mortos.
A perpetuação da História e seus personagens
Na belíssima região do Araguaia, os militantes do PCdoB, em sua maioria, moraram pelo menos um ano e meio antes do início dos conflitos. Alguns estavam ali há seis, cinco e quatro anos. Embora todos os 69 componentes do contingente guerrilheiro sejam ainda lembrados por onde moraram, alguns têm fama em toda a região dos combates e de bases militares, como em Xambioá e Marabá.
Ao lado de Osvaldo e Juca, a guerrilheira Dina é uma das histórias mais contadas. Mas, na área do C, Áurea, estudante de Física, como seu companheiro Ari, também é muito conhecida. Áurea reforçava a matemática em aulas para muitas crianças, hoje adultas. Dina, geóloga, foi “mãe de pegação” de paraenses que hoje procuram fotografias para conhecer o rosto de quem os ajudou a vir ao mundo.
Os relatórios militares, os oficiais, de 1972, dizem: a população se nega a prestar quaisquer informações que possam prejudicar Dina e Juca. O sentimento é de gratidão. Registram a disputa de comando do C entre Dina e Paulo. Dinalva, ainda militante do movimento estudantil, era considerada “atirada”, como lembram suas companheiras da Bahia. O casamento de Dina e do geólogo Antonio Carlos terminou logo que os dois chegaram à região. Ali, nascia uma paixão entre Dina e Gilberto Olímpio Maria, o Pedro, amor que se tornou público entre os componentes da guerrilha e familiares dos dois nas cidades. Os tempos ainda permitiam a comunicação.
Nos últimos seis anos, a Guerrilha do Araguaia despertou o interesse de pesquisadores, jornalistas e estudantes. Todos, de uma maneira geral, procuram personagens, fato normal para o estudo de episódios épicos realizados por indivíduos ou por um grupo, um coletivo. A Guerrilha do Araguaia é algo épico, diferente e inédito na história do Brasil. Pessoas, de diferentes classes sociais e de estados brasileiros, dirigiram-se a uma área então inóspita para o tudo ou o nada. A grande maioria daqueles militantes, porém, acreditava que aquilo seria o tudo, pelo menos naquele momento, para lutar por um futuro melhor. Não havia oportunidades para a ação política nas cidades e ali seria possível, se assim acontecesse, provar que a perseguição imperialista ao pensamento de esquerda era algo real.
Foram quase três anos de guerra, e de operações de infiltração de agentes na região e no seu entorno. Na área da guerrilha, alguns dos agentes militares por ali permaneceriam, como o major Curió – Sebastião Rodrigues de Moura – que utilizaria por muitos anos sua fama no combate aos guerrilheiros para transformar-se no “rei” do sudeste do Pará. Foi o interventor do ouro em Serra Pelada (PA), comandou a expulsão de padres franceses na região, atuou em conflitos de terra, como em Encruzilhada Natalino (RS), no Grupo de Terras Araguaia-Tocantins (Getat), e por aí vai. Há pouco tempo, disse ao jornal New York Times que é conhecido, em Brasília, como o Kurtz do Amazonas (em alusão ao personagem Kurts, do livro Coração nas Trevas, de Joseph Conrad).
Tem o costume de contar o tiro que levou de Lucia Maria (Sonia) e o combate do natal de 1973, quando teriam tombado Maurício e outros companheiros, mas nunca apontou seus túmulos. Também nunca foi chamado oficialmente a dizer como morreram e onde estariam seus corpos.
Arildo foi morto em outubro de 1973, no início da Operação Marajoara, como Sonia, André, Divino Ferreira de Souza, João Gualberto e Alfredo. Rosalindo foi morto “por forças de segurança” em agosto de 1973, quando ainda estava em andamento a Operação Sucuri, comandada em campo por Curió, operação que antecedeu a Marajoara, de combate e execução. Essa afirmação está contida em relatório do Exercito entregue ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em 1993. Os três ministros militares daquele ano entregaram relatórios com datas de mortes e outras informações sobre os 144 “desaparecidos” no Brasil. Fica claro que, em 1993, não havia ocorrido a tal “queima de arquivos” porque são informações resumidas, obviamente copiadas de pastas individuais de militantes de esquerda. Então, quando teria ocorrido a queima?
Esta pesquisadora, em 2001, reuniu os dados desses relatórios referentes à Guerrilha do Araguaia. O propósito era auxiliar a Expedição Antígona, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, coordenada pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. O cruzamento dessas informações foi repassado publicamente a pesquisadores, familiares e jornalistas.
Também a pesquisa cruzou dados dos grupos de direitos humanos e de matérias de imprensa. Foram confeccionados dois relatórios e um roteiro de busca de corpos, baseado em informações da caravana de 1980, do trabalho do advogado Paulo Fontelles e de seu filho, Paulinho Fontelles, também pesquisador.
Curiosamente, são esses os dados que permeiam o relatório entregue publicamente em 28 de março de 2007 pela Comissão Interministerial criada em 2003 pela presidência da República para a busca de informações sobre a Guerrilha do Araguaia. A Comissão manteve, inclusive, a numeração feita pela pesquisa. O relatório da Comissão, após anexar partes de documentos do Ministério Público e de uma diligência à região, sem acompanhamento público, para a busca de corpos, em época de chuva, ação singelamente criticada pela Polícia Federal que assina a diligência, conclui por tópicos já pronunciados na sentença da juíza Solange Salgado, de 2003, e do desembargador Souza Prudente, de 2004, ao processo dos familiares do Araguaia, aberto em 1982, pelos advogados Luiz Eduardo Greenhalgh e Sigmaringa Seixas.
O Araguaia é oficial
Desde 1996 relatórios oficiais e fotografias chegam às mãos de jornalistas e pesquisadores. As fontes são obviamente militares. O mérito aqui, se houver - relatório militar não é souvenir, tampouco o são fotografias de prisioneiros que “desapareceram”, como Daniel e Antonio de Pádua Costa, o último comandante do A -, é que o primeiro “vazamento” oficial de relatórios militares partiu do primeiro general de brigada da Guerrilha, Antonio Bandeira, ao O Globo, em 1996.
A partir daí, parentes de militares escrevem ou fornecem informações dadas por fontes “não reveladas”, inclusive em trabalhos universitários. Enquanto alguns militares ainda resolvem contar, vez ou outra, novas informações, como fez o major Curió ao Estado de S.Paulo, em 2004, ao dizer que Dina teria morrido em 24 de julho de 1974 (o relatório oficial de 1993 diz apenas o mês e o ano), o livro A Lei da Selva, de Hugo Studart, também autor de matéria publicada em março deste ano na revista BR História, afirma que Dina justiçou, por adultério, seu amigo e advogado baiano Rosalindo Sousa, porque ele teria um caso com Áurea. Observa-se em vários relatórios (Papagaio, Manobra, entre outros) a referência a Arildo como guerrilheiro ousado e corajoso, porque fustigava sentinelas nas barracas, onde entrava e pegava armas. O companheiro de Áurea foi morto na Operação Marajoara com um tiro no peito, em outubro de 1973, e decapitado. A barbárie contra Ari teria sido a primeira das degolas públicas por ação militar na guerrilha.
Rosalindo fora morto antes, em agosto, como afirma abaixo o relatório do Centro de Informação do Exército - CIE, responsável pela Operação Sucuri. Studart parece esquecer o que ele próprio afirma em seu livro: Osvaldo e Rosalindo chamavam a atenção para a presença de agentes na região. A Sucuri, findada em outubro de 1973, tinha por princípio não matar, apenas observar, com exceção de Osvaldo, que poderia ser morto, desde que se tivesse certeza de ser possível acertá-lo.
O relatório Arroyo diz que Rosalindo, o Mundico, poderia ter-se ferido com sua própria arma, mas não informa de onde teria vindo essa informação. Mundico mantinha-se como PA, embora tivesse posto de comando. Os militares dizem que encontram Mundico, enterram para depois retornarem e tirar sua cabeça para resolver a dúvida de que aquele corpo poderia ser o um soldado que havia sumido. Ou seja, Rosalindo fora confundido com um soldado, que, por sua vez, poderia ter sido morto em fogo amigo? Vale lembrar que vários militares morreram por fogo amigo, segundo relatórios que também fornecem nomes de alguns soldados feridos por suas próprias armas. No entanto, a exumação do corpo de Rosalindo mostra o “tratamento” dado por oficiais aos seus subordinados. Tirar a cabeça de um morto para tentar identificar um companheiro, um soldado do Estado?
Matar prisioneiro é crime
Dina e Áurea foram presas, em 1974. Com exceção de Lúcia Maria de Souza (Sônia) e Helenira Rezende (Fátima), do A, e das que foram aprisionadas em 1972, todas as mulheres guerrilheiras foram presas e mortas em 1974. O cálculo é de 25 prisioneiros em 1974. Todos foram posteriormente assassinados?
Também o que surpreende nos textos de Studart é a “informação” de que o sargento Joaquim Artur, o Ivan, seria o algoz de Dina, que, por sua vez, ainda teria travado um diálogo com ele sobre sua própria morte. Impressiona ainda mais saber que supostamente Ivan já teria morrido. Não poderia, portanto, confirmar ou contrariar essa acusação.
Desde 1980, com a primeira caravana de familiares ao Araguaia, sabe-se que Áurea foi enterrada no Cemitério de Xambioá. Em 2001, foi revelado à Expedição Antígona que Áurea teria sido fuzilada, após bastante tempo presa, vestida com um macacão da Aeronáutica. Levou um tiro no peito. Os que viram seu sepultamento jamais esqueceriam.
Vale lembrar que Ari estava vivo quando Rosalindo morreu. Fosse por um acerto de contas porque Ari precisaria de Dina? E porque Áurea seria poupada? E por que logo Dina, que lutou por sua liberdade e passou o último período da guerrilha combatendo como vice-comandante e sob o comando de Gilberto? Paulo fora transferido para o apoio à Comissão Militar.
Ora, na “desculpa” talvez preocupada de alguns militares, Maria Célia (Rosinha), presa na Bacaba, teria matado a facão, Antonio de Pádua, preso (Dest. A), e, por isso, “foi morta a tiros”. Antonio Teodoro (Raul) e Cilon da Cunha Brum (Simão), presos, foram mortos, dizem os relatórios de 1993, por “justiçamento” (nesse período os destacamentos B e C fundiram-se, os dois guerrilheiros pertenciam ao B). Eles teriam sido mortos “por ataques de terroristas”. Os relatos sobre a guerrilha mostram que, fosse Mundico justiçado, isso seria um grande trunfo para os militares na época, tanto para difundir informações contra os guerrilheiros como para o registro oficial. E isso, como se vê, não ocorreu.
Não havia apenas uma força militar na Guerrilha. Havia três, mais as policiais. Será que alguns militares não concordavam com a execução criminosa de prisioneiros? Não por coincidência, é a Marinha, força especialista na vigilância aos comunistas de todas as décadas anteriores, a que apresenta quase todas as datas de morte de prisioneiros, não o Exército. A Marinha teria mais informações que as outras forças? Ou porque tentaram exigir, pelo menos, um argumento, para a execução da ordem anticomunista? Embora não tenham “providenciado” um motivo “interno” às forças guerrilheiras para os assassinatos de Dina e Áurea, vários militares poderiam, a partir da sentença da Justiça, buscar, agora, alguma mancha para incriminar ou manchar a história de Dina. Por qual motivo?
Dina foi mulher competitiva e valente, cuja fama, hoje, incomoda aos que sabem terem manchado, na verdade, a história recente do Brasil. Prisioneiro não se mata. Um verdadeiro militar sabe que, além de crime de guerra, esse é o ápice da covardia. Não há diferença entre guerra e guerrilha nos regimentos militares. Não quanto ao tratamento de prisioneiros. E não há, obviamente, anistia para isso.
Dina, como Áurea e tantos outros participam e continuarão participando do imaginário social da região e da história do País. O povo viu Áurea morta e sepultada, como viu Juca, Jorge, Daniel, Osvaldo, Paulo e vários outros guerrilheiros no Cemitério de Xambioá. Seus familiares e também a história aguardam suas identificações, como ocorreu com Maria Lúcia Petit.
O povo, entretanto, não viu o corpo de Dina. No Araguaia e em muitos outros lugares do Brasil, incluindo Brasília, afirma-se que Dina não morreu. Quem virá a público dizer o contrário?
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Dados dos três relatórios entregues por ministros militares, em 1993, ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa.
54. Rosalindo Cruz Souza - Mundico
Filho de Ronaldo Cipriano de Souza e de Lindaura Correa de Souza, natural de CALDEIRÃO GRANDE/BA.
Advogado, militante do PCdoB, utilizava o codinome “MUNDICO” e participou da guerrilha do Araguaia, atuando no Grupo de Apoio na região de PAU PRETO. Consta que teria sido morto no dia 16 Ago 73, em combate com as forças de segurança (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheiro no Araguaia. Dado como morto por documento do Comitê Brasileiro pela Anistia, datado de Nov 79 e segundo declaração do Dep. Fed. JOSÉ GENOINO publicada na F. de São Paulo, 26 Jun 78. Neste Órgão, não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- NOV/74, relacionado entre os que estiveram ligados à tentativa de implantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá. Morto em SET 73 (MAR).
10. Áurea Eliza Pereira Valadão – Elisa/Áurea
Professora, casado com ARILDO VALADÃO.
Durante a guerrilha do Araguaia, chefiou um grupo de terroristas armados de revólveres cal 38 e espingardas cal 20 que participou em 04 Ago 73, de uma festa na Fazenda “Sapiência” (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheira no Araguaia. Segundo o noticiário de imprensa nos últimos 18 anos e documentos de entidades de defesa dos direitos humanos, teria sido morta ou desaparecido no Araguaia. Não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- NOV/74, relacionada entre os que estiveram ligados à tentativa de implantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá. Morta em 13 JUN 74 (MAR).
9. Arildo Valadão - Ari
Filho de Altino Andrada Valadão e de Helena Andrada Valadão, nascido em 28 Dez 48 e natural do Estado do Espírito Santo.
Utilizava-se dos codinomes “ARI” e “IVAN”.
Uma relação com o título “Mortos” na guerrilha do Araguaia, incluiu seu nome com o codinome “ARI” (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheiro no Araguaia. Segundo o noticiário de imprensa nos últimos 18 anos e documentos de entidades de defesa dos direitos humanos, teria sido morto ou desaparecido no Araguaia. Não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- MAI/72, foi reconhecido em fotografia, por um cabloco, como estando na região de Mutum.
- JUL/72, fez parte de um grupo de aproximadamente 15 militantes do PCdoB, que se deslocou da Guanabara à área de Xambioá.
- MAI/73, invadiu a fazenda “Paulista” em Xambioá/Araguaia, juntamente com um grupo de mantimentos e animais da citada fazenda. Além disto, fez um “Trabalho de Massa” com os lavradores que estavam por perto, convocando-os para a “Luta Pela Libertação”
- NOV/74, relacionado entre os que estiveram ligados à tentativa de im´plantação de guerrilha rural, levada a efeito pelo comitê central do PCdoB, em Xambioá. Morto em 24 NOV 74 (MAR)
18. Dinalva Oliveira Teixeira - Dina
Filha de Viriato Augusto de Oliveira e de Elza Conceição Bastos, nascida no dia 16 Mai 45, em CASTRO ALVES/BA.
Exercia a função de geóloga do DNPM, no RIO DE JANEIRO/RJ, até abril de 1970, quando abandonou o trabalho. Em 1972, foi identificada, por fotografia, por habitantes de XAMBIOÁ/GO, juntamente com seu esposo ANTONIO CARLOS MONTEIRO TEIXEIRA. Ambos atuavam na região de Terra Nova, como professores da Escola mantida pelos padres em SÃO FELIX DO ARAGUAIA/MT, entre junho e dezembro de 1971. Juntamente com “OSVALDÃO”, chefiava um grupo de guerrilheiros no ARAGUAIA, integrando o “Destacamento C”. Utilizava-se do codinome “DINA” e realizou várias ações de incursão para roubo de armas e mantimentos. Existem registros de que teria morto um informante das Forças Legais (CIE).
Militante do PCdoB e guerrilheira no Araguaia. Segundo o noticiário de imprensa nos últimos 18 anos e documentos de entidades de defesa dos direitos humanos, teria sido morto ou desaparecido no Araguaia. Não há dados que comprovem essa versão (FAB).
- NOV/72, participou da guerrilha como integrante do PCdoB, na região de Xambioá. Nesta ocasião era tida como professora e enfermeira e atendia pelo nome de “Diomar''.
- JAN/73, foi notada sua presença em atividade subversiva, na região sul do Pará.
- MAR/73, entre os dias 30 JAN e 02 FEV/73, acompanhada por outros elementos, (DINA) percorreu várias casas de caboclos da região de “Pau Preto”, onde foi comprado arroz e distribuído um manifesto do “PC do B”, prometendo aos elementos da região que, após a derrubada do governo seriam instalados na mata escolas e hospitais. Na ocasião, foi notado que o grupo de “Dina” portava uma atravessada no peito que aparentava ser automática. A “Dina” comentou que o grupo estava preparado para vingar os companheiros mortos durante as operações militares ocorridas em SET/62.
- JUL/74, teria sido morta em Xambioá (MAR).
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=16201
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A PATRIA QUE TORTURAVA IV
sábado, 8 de agosto de 2009
escrito por Guina em 12/07/2007
Por Myrian Luiz Alves, jornalista, pesquisadora
Neste dia 12 de abril, comunistas, simpatizantes, progressistas e todos aqueles que procuram conhecer a história recente do Brasil relembram a batalha conhecida como Guerrilha do Araguaia.
Há 35 anos, a região sudeste do Pará, o norte do atual estado do Tocantins, o sul do Maranhão, áreas do Mato Grosso, grandes cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo viram cidadãos serem caçados a ferro e fogo porque ousaram enfrentar o poder de Estado. A audácia era o pensar.
É esse e não outro o motivo principal da ação desencadeada em 28 de março de 1972, e não no dia 12 de abril, por agentes da Marinha e do Exército. Haviam detectado, após pelo menos dois anos de procura, a presença de militantes do Partido Comunista do Brasil em área amazônica.
De uma noite para outra, milhares de militares transformaram a pacata realidade de pelo menos dez povoados e municípios da região, no cenário dantesco de uma vida entre o purgatório e o inferno. Isso duraria até janeiro de 1975 e também nos anos vindouros, porque a região se transformaria em palco de conflitos de terra e de garimpo.

Àquela área do Norte, o PCdoB enviara, desde 1966, vários militantes e dirigentes. Da mesma forma, outros militantes e dirigentes viveram por muitos anos clandestinamente em muitas cidades do interior dos estados do Ceará, Piauí e Rondônia. São muitas as histórias ainda não relatadas. Para a região do Araguaia, havia retaguardas e portas de entrada, por exemplo, no Maranhão, áreas também receptivas aos militantes da Ação Popular, Var-Palmares, Ação Libertadora Nacional, remanescentes de Trombas e Formosa (GO), além da antiga militância local, ligada ao PCdoB e ao Partido Comunista Brasileiro.
A primeira ação de fato militar na região sudeste do Pará seria a Operação Carajás, em Marabá (PA), hoje a terceira maior cidade do estado, ainda em 1970. Bombas napalm foram jogadas na praia de Tucunaré, bem em frente à parte pioneira da cidade dos antigos castanhais.
Quando, em 1966, Osvaldo Orlando da Costa pisou em terras paraenses sentiu-se em casa. Era região de minério, de ouro e diamantes. Estudara o tema na Tchecoslováquia e nas minas da Chapada Diamantina (BA). Paulo Mendes Rodrigues, economista, quadro gaúcho do partido, instalara-se na área de Conceição do Araguaia (PA). Um antigo militante, Zé Francisco é um dos seus contatos, em São Geraldo (PA). Logo, Paulo receberia o operário e jogador de futebol Daniel Ribeiro Callado, o Doca. Em 1967, Osvaldão e Manuel José Nurchis, quadro paulistano do PCdoB, garimpavam juntos nas minas do Itamirim (PA). Daniel trabalhava na loja de Paulo, que, além de possuir um barco, viveria sempre como patrão na área da futura guerrilha. Fazendeiro de meia, auxiliar das contas dos moradores, ajudou a formar, como se vê por lá, quadros atuais da política regional. Seria, posteriormente, o primeiro comandante do Destacamento C, mais próximo à São Geraldo (PA) e Xambioá (TO). Entre Conceição, São Geraldo e Xambioá, Paulo é o nome mais conhecido da Guerrilha. Políticos da direita o procuravam para apoio político, o que “ele negava”, afirmam até hoje antigos sindicalistas rurais.

No natal de 1967, o município de São João do Araguaia (TO), onde as águas do tributário Araguaia se encontram com o rio Tocantins, recebeu o jovem ítalo-brasileiro Líbero Giancarlo Castiglia e a dirigente Elza Monerat. A tia Maria, do Joca. Logo, aportava também na localidade de Faveira, Maurício Grabois, o Mário. Neste local, onde constituiriam um pequeno comércio, parte do comitê central do PCdoB, passaria a organizar a área que poderia ou não transformar-se em palco de uma luta contra o Estado, e desta vez, realmente de farda, não mais como acontecera durante o Estado Novo, em delegacias policiais, a mando de Filinto Miller. Ex-integrante da Coluna Prestes, Miller era raivoso em sua perseguição, tortura e morte aos antigos companheiros, alguns, já na década de 1930, militantes comunistas.
Após a barbárie contra jovens e militantes experientes de esquerda nas cidades, entre o final da década de 1960 e o início da de 1970, militantes comunistas e da juventude católica são perseguidos em áreas rurais. O pouco desenvolvido interior do Maranhão era uma área fértil para o trabalho de base. Em 1971, a Operação Mesopotâmia é desencadeada em Porto Franco, Imperatriz e outras cidades do sul maranhense.

Franco, porque sempre permitiu a entrada de rebeldes rurais goianos, o município de caráter político progressista, e também com influência da maçonaria, viu passar muitas lutas, desde aquela contra o padre João, na época do Império, que fechou as escolas criadas por maranhenses em Boa Vista, atual Tocantinópolis, cidade de frente a Porto Franco. Em 1967, João Carlos Haas Sobrinho, o futuro comandante Juca, fundaria o primeiro e único hospital de todos aqueles povoados e municípios do sul do Maranhão e norte de Goiás. Em frente à sua casa, na rua Rio Branco, moraram também Mário, Zé Carlos e Gilberto, vendedores de quinquilharias para cozinha, como fogões de duas bocas e panelas de alumínio. Entre 1967 e final de 1968, o ex-líder da bancada comunista na Assembléia Constituinte, Maurício Grabois, divertia-se, nas horas vagas, cortando o cabelo dos meninos de Porto Franco, tarefa que também desempenharia na Guerrilha, já como o comandante-geral Mário. Seu filho, Zé Carlos (André), treinava todo dia às 15h um futebol perto das margens do rio Tocantins com os jovens da cidade. No intervalo, atravessavam a nado até uma ilha e tiravam a seqüência da partida. Gilberto Olímpio Maria, o melhor no futebol, que às vezes contava com o doutor João Carlos, era o que menos permanecia na cidade. Tinha um Jeep e não disfarçava que era intensamente paquerado por algumas mulheres da região. Era um homem atraente, lembrava o Eder Jofre, famoso no boxe daqueles tempos.
A Mesopotâmia, porém, não registra a presença de nenhum desses quase ilustres moradores, que deixariam memória e amizade. O doutor João fez história, é reconhecido e admirado por gerações que nem o conheceram. Aquelas que com ele conviveram também não permitem esquecer. Seu nome será o Ponto de Cultura e o Centro Desportivo da cidade, que, há alguns anos, dedicou o centro cirúrgico do hospital municipal em sua homenagem. O hospital de São João do Paraíso, ex-distrito de Porto Franco, hoje município, recebeu também o nome do primeiro médico-cirurgião.
O gaúcho de São Leopoldo fez muito por merecer, no Maranhão e no Pará, além do Rio Grande do Sul, onde presidiu a União dos Estudantes Gaúcha em 1964, ano de sua formatura em medicina. Em Porto Franco, sua ex-auxiliar, dona Dejacir, disse a esta pesquisa que “O doutor João Carlos podia não acreditar em Deus, mas Deus acreditava nele”.
João Amazonas lembrou também a esta pesquisa, por telefone, em 2001, que os companheiros chamaram a atenção de Juca, por ele ter o hábito de não pensar duas vezes antes de socorrer alguém, mesmo que isso colocasse em perigo a situação dos companheiros, na região do Pará. Afinal, ao sair de Porto Franco, o doutor João Carlos adquirira fama num extensa área a apenas 150 quilômetros de São Geraldo, onde Juca moraria com o fazendeiro Paulo e, futuramente, com o ex-vice-presidente do Diretório Acadêmico da Universidade Federal do Ceará, Bérgson Gurjão Farias, o Jorge, futuro líder do grupo Esperancinha, do C. Sabendo que ele teria sempre a medicina em primeiro lugar, Juca recebeu a instrução para ser apenas “enfermeiro”. Poucos dias após sua chegada, porém, dizia Amazonas, o comandante médico-militar da guerrilha já era chamado de “doutor Juca”.
Logo, chegariam Dinalva Oliveira Teixeira, a Dina, e Antonio Carlos Monteiro Teixeira, na área do C, em São Geraldo, onde também moraraia posteriormente o casal Arildo Valadão e Áurea Elisa Pereira. Um grande amigo de Dina, ainda da Bahia, Rosalindo Souza, optou por montar base de apoio, o chamado PA, na área periférica daquele povoado. Entre 1969 e abril de 1972, muitos outros militantes passaram a compor os destacamento A, B e C.
O A baseava-se entre Marabá e São Domingos, interiorizando-se para São João e Brejo Grande, antes da Palestina, região do B. Por sua riqueza natural, embora com as mazelas das doenças tropicais, uma população razoável morava nas matas. O sudeste do Pará, com seus castanhais e água farta pelos igarapés e rios, passara, então, a ser refúgio e área de preparo contra a ação anticomunista e imperialista, responsável, pelo assassinato, prisão e tortura, durante as décadas de 1950 e 1960, de centenas de comunistas e socialistas no Caribe e na América Central. Em algum momento, sabiam os militantes, a repressão chegaria por lá.

Não havia, naquele momento, razão segura para seguir para os grandes centros. A tática imperialista, alicerçada na Operação Condor, na América do Sul, principalmente, era a de “eliminação” de comunistas, como afirma o relatório da Operação Marajoara, em março de 1974. A decisão incluía a morte do PCdoB e da AP. Em 1975, muitos militantes do Partido Comunista Brasileiro, que se posicionava contra a luta armada, também seriam perseguidos e mortos.
A PATRIA QUE TORURAVA III
Nasceu a 23 de julho de 1947 na cidade do Rio de Janeiro, filha de Luiz Durval Cordeiro e Celeste Durval Cordeiro.
Desaparecida desde 1974, na Guerrilha do Araguaia, aos 27 anos.
Universitária, estudante de Geografia da Universidade Federal Fluminense, de onde foi excluída em 1968 pelo Decreto-lei 477.
Deslocou-se para a região do Araguaia em 1971, juntamente com seu marido Elmo Corrêa indo morar às margens do Rio Gameleira e ingressando no Destacamento B da Guerrilha.
No início do ano de 1974 foi presa na casa do Sr. Macário em São Geraldo e entregue a José Olímpio, engenheiro do DNER que trabalhava para o Exército. Passou a noite amarrada no barco de José Olímpio antes de ser entregue às autoridades em Xambioá. (Depoimentos colhidos na região pelo advogado Paulo Fontelles, representante da OAB junto à Caravana de Familiares que estiveram no Araguaia à procura de informações em 1981.) Segundo o Relatório do Ministério da Marinha, “foi morta em janeiro de 1974”.
HONRA E GLÓRIA AOS HERÓIS DO POVO!
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A PATRIA QUE TORTURAVA II
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
PÁGINAS DE UMA HISTÓRIA PROIBIDA
Assunto evitado pela maioria de seus moradores, esta região localizada na fronteira entre os Estados do Pará, Maranhão e Goiás (região onde altualmente é o Norte do Estado de Tocantins), foi marcada por um conjunto de operações militares ocorridas durante a década de 1970 promovidas por grupos contrários ao então Regime Militar em vigor no Brasil, conhecida como Guerrilha do Araguaia. Proclamados como revolucionários, foram considerados terroristas pelo poder instituído, ainda assim sendo considerados por alguns brasileiros.




Enviada: Sáb Jun 02, 2007 11:03 am Assunto: DESAFIO SERRA DAS ANDORINHAS - CONVITE
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Desafio Serra das Andorinhas
Localizada no município de São Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará, em uma das regiões mais selvagens do Estado, encontra-se a Serra dos Martírios e o Parque Estadual da Serra das Andorinhas, que abriga oito ecossistemas distintos, 113 sítios arqueológicos, 5740 gravuras e pinturas rupestres, 31 cavernas e 47 cachoeiras.
A região possui uma variedade de ecossistemas bastante diferente do que normalmente se encontra na Amazônia, por estar localizada em uma zona de transição entre a floresta tropical úmida e o cerrado do planalto brasileiro.
Um verdadeiro mundo selvagem e desconhecido até mesmo para os habitantes da região. Seu ponto mais alto atinge os 600 metros em relação ao nível do mar e sua maior queda d’água, a cachoeira do Spanner, com mais de 130 metros.
Segundo Noé Von Atzingen, da Fundação Casa da Cultura, "A Serra das Andorinhas deve ser o segundo lugar do Brasil com maior riqueza de vestígios arqueológicos, só perdendo para os sítios no Piauí".
São Geraldo do Araguaia fica a duas horas da Cidade de Marabá, cujo acesso pode ser feito por via rodoviária ou aérea com vôos diários a partir de quase todas as capitais brasileiras.
O movimento foi organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), na ilegalidade, entre 1966 e 1974. Por meio de uma guerra popular prolongada, seus integrantes pretendiam implantar o comunismo no Brasil, iniciando o movimento pelo campo, à semelhança do que ocorrera na China (1949) e em Cuba (1959).
Estima-se que participaram em torno de setenta a oitenta guerrilheiros sendo que, destes, a maior parte chegou à região em torno de 1970. Entre eles, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, que foi detido pelo Exército em 1972, que estima a perda de cerca de dezesseis soldados no conflito. O balanço oficial à época, indicava sete guerrilheiros mortos, mas em 2004, o Ministério da Justiça Brasileiro contabilizava sessenta e um desaparecidos.
Segundo testemunhos, a maioria dos guerrilheiros capturados foi torturada antes de ser executada, e os seus corpos ocultados, numa espécie de operação limpeza promovida pelos militares a partir de 1975.





Serra das Andorinhas: local histórico na Amazônia é palco para o desafio da Kaluanã Amazônia Extrema
Autor: Adventure Mag
Prova aceitará somente equipes da categoria Pro »»»

A Serra das Andorinhas, também conhecida como Serra dos Martírios, no Pará, será o cenário da maior corrida de aventura da região Norte do país, que abriga nossa valiosa Amazônia: a Try On Adventure Meeting – Kaluanã Amazônia Extrema.
Serão 200 km de percurso em meio à diversidade de ecossistemas que a serra apresenta. Os atletas devem ter conhecimentos sobre orientação e navegação com bússola; habilidades nas técnicas verticais (rapel, tirolesa e ascensão); canoagem em águas brancas, mountain bike e trekking – as modalidades envolvidas numa corrida de aventura.
Poderão participar duplas, trios ou quartetos, mistos ou não, apenas na categoria PRO. Mas só as equipes que se inscreverem em quarteto pontuam no RBCA – Ranking Brasileiro de Corrida de Aventura e no Meeting.
A terceira etapa da Kaluanã Amazônia Extrema acontece entre 22 e 24 de setembro e promete muita emoção e adrenalina num cenário inusitado. A região da Serra das Andorinhas possui uma aura de mistério e de luta. Seu relevo acidentado vai exigir preparo físico dos atletas e a presença de animais e um número significativo de onças, obrigou a organização a inserir duas dark zones (quando a prova é interrompida durante certo período noturno).
Natureza Exuberante - Antiga moradia de povos que deixaram seus registros nas pinturas e cerâmicas, a Serra das Andorinhas é também chamada dos Martírios porque foi o palco da Guerrilha do Araguaia que durou de 1973 a 1975, durante o governo militar. A Serra está situada nas margens do rio Araguaia, também chamado pelos indígenas de “Paraupava” que na língua tupi-guarani significa “água grande e rasa”, em São Geraldo do Araguaia, sul do Pará. Um local onde o cerrado brasileiro se encontra com a floresta amazônica revelando-se como uma das regiões mais ricas do país em termos de diversidade biológica.
O Parque Estadual da Serra dos Martírios / Andorinhas possui uma área de 60 mil hectares e engloba oito ecossistemas; 106 sítios arqueológicos; 5.677 gravuras e pinturas rupestres catalogadas; cavernas; grutas e cachoeiras; 580 espécies de animais vertebrados, dos quais 26 estão na lista de animais em perigo de extinção, como a onça pintada, o gavião-real, o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra. E para completar diversas espécies vegetais e plantas medicinais. Um verdadeiro tesouro natural e histórico.

Guerrilha do Araguaia - Foi uma guerra silenciosa. Calada pelas mordaças da censura durante o período militar, mas até hoje profundamente marcada na alma dos moradores da região. De abril de 1972 a janeiro de 1975, São Geraldo do Araguaia foi palco de uma guerrilha entre revolucionários e o regime militar. A comunidade, que não tinha nada com isso, se viu envolvida numa teia de morte, tristeza e destruição.
Essa guerra, jamais admitida pelo governo, foi uma grande operação militar desenvolvida pelo Exército, Aeronáutica e Marinha e mobilizou no auge do conflito, 3.200 homens e 12 aviões, incluindo 4 caças de combate T-6, para lutar contra os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PCB), entre eles o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, comandados pelo ex-deputado federal Maurício Grabois.
O movimento foi organizado pelo PCB na ilegalidade, entre 1966 e 1974. Por meio de uma guerra popular prolongada, seus integrantes pretendiam implantar o comunismo no Brasil, à semelhança do que ocorrera na China (1949) e em Cuba (1959).
Os moradores do local, que nem sabiam o que era regime militar ou perseguição política, democracia ou comunismo, sofreram todos os tipos de perdas que estão intrínsecos numa guerra. Hoje se fecham no silêncio. Com o término da guerrilha, o governo rebatizou a Serra dos Martírios como Serra das Andorinhas, para não associar o nome de tão belo lugar à triste guerrilha.
Mais informações: www.kaluana.com
Assunto evitado pela maioria de seus moradores, esta região localizada na fronteira entre os Estados do Pará, Maranhão e Goiás (região onde altualmente é o Norte do Estado de Tocantins), foi marcada por um conjunto de operações militares ocorridas durante a década de 1970 promovidas por grupos contrários ao então Regime Militar em vigor no Brasil, conhecida como Guerrilha do Araguaia. Proclamados como revolucionários, foram considerados terroristas pelo poder instituído, ainda assim sendo considerados por alguns brasileiros.




Enviada: Sáb Jun 02, 2007 11:03 am Assunto: DESAFIO SERRA DAS ANDORINHAS - CONVITE
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Desafio Serra das Andorinhas
Localizada no município de São Geraldo do Araguaia, no sudeste do Pará, em uma das regiões mais selvagens do Estado, encontra-se a Serra dos Martírios e o Parque Estadual da Serra das Andorinhas, que abriga oito ecossistemas distintos, 113 sítios arqueológicos, 5740 gravuras e pinturas rupestres, 31 cavernas e 47 cachoeiras.
A região possui uma variedade de ecossistemas bastante diferente do que normalmente se encontra na Amazônia, por estar localizada em uma zona de transição entre a floresta tropical úmida e o cerrado do planalto brasileiro.
Um verdadeiro mundo selvagem e desconhecido até mesmo para os habitantes da região. Seu ponto mais alto atinge os 600 metros em relação ao nível do mar e sua maior queda d’água, a cachoeira do Spanner, com mais de 130 metros.
Segundo Noé Von Atzingen, da Fundação Casa da Cultura, "A Serra das Andorinhas deve ser o segundo lugar do Brasil com maior riqueza de vestígios arqueológicos, só perdendo para os sítios no Piauí".
São Geraldo do Araguaia fica a duas horas da Cidade de Marabá, cujo acesso pode ser feito por via rodoviária ou aérea com vôos diários a partir de quase todas as capitais brasileiras.
O movimento foi organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), na ilegalidade, entre 1966 e 1974. Por meio de uma guerra popular prolongada, seus integrantes pretendiam implantar o comunismo no Brasil, iniciando o movimento pelo campo, à semelhança do que ocorrera na China (1949) e em Cuba (1959).
Estima-se que participaram em torno de setenta a oitenta guerrilheiros sendo que, destes, a maior parte chegou à região em torno de 1970. Entre eles, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, que foi detido pelo Exército em 1972, que estima a perda de cerca de dezesseis soldados no conflito. O balanço oficial à época, indicava sete guerrilheiros mortos, mas em 2004, o Ministério da Justiça Brasileiro contabilizava sessenta e um desaparecidos.
Segundo testemunhos, a maioria dos guerrilheiros capturados foi torturada antes de ser executada, e os seus corpos ocultados, numa espécie de operação limpeza promovida pelos militares a partir de 1975.





Serra das Andorinhas: local histórico na Amazônia é palco para o desafio da Kaluanã Amazônia Extrema
Autor: Adventure Mag
Prova aceitará somente equipes da categoria Pro »»»

A Serra das Andorinhas, também conhecida como Serra dos Martírios, no Pará, será o cenário da maior corrida de aventura da região Norte do país, que abriga nossa valiosa Amazônia: a Try On Adventure Meeting – Kaluanã Amazônia Extrema.
Serão 200 km de percurso em meio à diversidade de ecossistemas que a serra apresenta. Os atletas devem ter conhecimentos sobre orientação e navegação com bússola; habilidades nas técnicas verticais (rapel, tirolesa e ascensão); canoagem em águas brancas, mountain bike e trekking – as modalidades envolvidas numa corrida de aventura.
Poderão participar duplas, trios ou quartetos, mistos ou não, apenas na categoria PRO. Mas só as equipes que se inscreverem em quarteto pontuam no RBCA – Ranking Brasileiro de Corrida de Aventura e no Meeting.
A terceira etapa da Kaluanã Amazônia Extrema acontece entre 22 e 24 de setembro e promete muita emoção e adrenalina num cenário inusitado. A região da Serra das Andorinhas possui uma aura de mistério e de luta. Seu relevo acidentado vai exigir preparo físico dos atletas e a presença de animais e um número significativo de onças, obrigou a organização a inserir duas dark zones (quando a prova é interrompida durante certo período noturno).
Natureza Exuberante - Antiga moradia de povos que deixaram seus registros nas pinturas e cerâmicas, a Serra das Andorinhas é também chamada dos Martírios porque foi o palco da Guerrilha do Araguaia que durou de 1973 a 1975, durante o governo militar. A Serra está situada nas margens do rio Araguaia, também chamado pelos indígenas de “Paraupava” que na língua tupi-guarani significa “água grande e rasa”, em São Geraldo do Araguaia, sul do Pará. Um local onde o cerrado brasileiro se encontra com a floresta amazônica revelando-se como uma das regiões mais ricas do país em termos de diversidade biológica.
O Parque Estadual da Serra dos Martírios / Andorinhas possui uma área de 60 mil hectares e engloba oito ecossistemas; 106 sítios arqueológicos; 5.677 gravuras e pinturas rupestres catalogadas; cavernas; grutas e cachoeiras; 580 espécies de animais vertebrados, dos quais 26 estão na lista de animais em perigo de extinção, como a onça pintada, o gavião-real, o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra. E para completar diversas espécies vegetais e plantas medicinais. Um verdadeiro tesouro natural e histórico.

Guerrilha do Araguaia - Foi uma guerra silenciosa. Calada pelas mordaças da censura durante o período militar, mas até hoje profundamente marcada na alma dos moradores da região. De abril de 1972 a janeiro de 1975, São Geraldo do Araguaia foi palco de uma guerrilha entre revolucionários e o regime militar. A comunidade, que não tinha nada com isso, se viu envolvida numa teia de morte, tristeza e destruição.
Essa guerra, jamais admitida pelo governo, foi uma grande operação militar desenvolvida pelo Exército, Aeronáutica e Marinha e mobilizou no auge do conflito, 3.200 homens e 12 aviões, incluindo 4 caças de combate T-6, para lutar contra os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PCB), entre eles o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, comandados pelo ex-deputado federal Maurício Grabois.
O movimento foi organizado pelo PCB na ilegalidade, entre 1966 e 1974. Por meio de uma guerra popular prolongada, seus integrantes pretendiam implantar o comunismo no Brasil, à semelhança do que ocorrera na China (1949) e em Cuba (1959).
Os moradores do local, que nem sabiam o que era regime militar ou perseguição política, democracia ou comunismo, sofreram todos os tipos de perdas que estão intrínsecos numa guerra. Hoje se fecham no silêncio. Com o término da guerrilha, o governo rebatizou a Serra dos Martírios como Serra das Andorinhas, para não associar o nome de tão belo lugar à triste guerrilha.
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http://www.procurandovagas.org/as-gatas-dos-jogadores-de-futebol/#more-6103
sábado, 1 de agosto de 2009



















As mais belas gatas dos jogadores de futebol 29/jul/2009 | postado por fuinha
Ilary Biasi – Francesco Totti – Itália
Alena Seredova – Buffon – Itália
Keeley Hazell – Joe Cole – Inglaterra
Nereida Gallardo – Cristiano Ronaldo – Portugal
Belen Rodriguez – Borriello – Itália
Abigaila Clancy – Crouch – Inglaterra
Rosaria Cannavo – Panucci – Itália
Valentina Zambrotta – Zambrotta – Itália
Adelina Elisei – Cristi Chivu – Romênia
Oksana Anderson – Willhemson – Suécia
Nani Gaitan – Sérgio Ramos – Espanha
Sylvie Meis – Van Der Vaart – Holanda
Alex Curran – Gerrard – inglaterra
Colleen McLoughlin – Wayne Rooney – Inglaterra
Anine Bing – Anders Svensson – Suécia
Noemie Lenoir – Makelele – França
Elena Santarelli – Bernardo Corradi – Itália
Melanie Slade – Theo Walcott – Inglaterra
Helene Swedin – Figo – Portugal
–UPDATE–
[In Memorian]
Andréa Albertini – Ronaldo – Corinthians
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