UM MAL ENTENDIDO
Gerysmar Fernandes*
Senhores leitores, neste texto, resolvi escrever pedindo licença poética, sem pressão da academia de letras, ou seja, não estou nem ai para regras de ortografia. Não se trata de um artigo, mas sim de um texto mais alegre, enfocando um pouco de humor, educação e ambição.
Certo dia, um sujeito parou para observar o dialogo de dois garotos, próximos a escola, deteve-se numa palavra proferida por eles: Drogas.
E um deles dizia:
- Tivemos uma palestra na escola hoje, sobre drogas.
- É droga pra lá e droga pra cá, mais ai ó, lá em casa tem uma drogaria, por que a policia não prende o farmacêutico, ele vende droga!
- Hei! Vamos ver o dicionário da biblioteca.
- Não tem.
- Tem sim. Quí ó “drogaria, lugar que vende drogas”.
- Caracas meu! Vamos chamar a policia, e prender o português.
- Que português?
- O farmacêutico! Cara.
- Isso ai ó, vamos lá.
Chegando no quartel, dicionário embaixo do braço, os dois desconfiados entraram.
- Licença (Com a voz quase sumindo)
- Pois não. (falou seco o policial)
- Queremos ... é queremos denunciar um lugar que vende drogas.
O policial ficou todo interessado, seus miolos funcionaram a todo vapor, pensando na promoção e, por alguns instantes sua imaginação criou asas. Pensou numa estratégia para prender os meliantes, imaginou a cirene tocando muito alto, soldados sob seu comando, a entrevista para a TV local, a convocação do coronel para dar-lhe os parabéns pelo “grande feito”. O reconhecimento da sociedade, as crianças no clube dizendo baixinho: Olha o policial que prendeu os bandidos.
Mas voltou logo a realidade e dirigiu-se ao dois garotos:
- Sim crianças, podem falar, fiquem as vontades. Mas onde é mesmo o lugar que vendem drogas?
- O português, ele vende drogas.
- O português! O farmacêutico?
- Sim ele mesmo, disse um dos garotos.
- Vocês podem provar isso?
- Sim ta quí ó no Aurélio.
- Não acredito! O Aurélio também!
- Não, o Aurélio que fala, o ...
- Soldado Grandããããão!
- Sim comandante.
- Vá lá e traga o Aurélio aqui, agora e algemado, não deixe o meliante fugir.
- Positivo e operante chefe.
- Chefe não! Comandante Pessoooa.
- Sim senhor! ... comandante.
O soldado foi até o paiol de armas, pegou duas metralhadoras, uma pistola 9 milímetros, um colete a prova de bala, roupas camufladas, e seguiu. O barulho da cirene cortou o vilarejo rua acima rua abaixo até chegar à casa do Sr. Aurélio – Cidadão de respeito, honesto, prestador de serviços à sociedade, Presidente do maior partido político do vilarejo, dois títulos de honoris causa, uma medalha Santo Dumont pela Forca Aérea, comerciante bem sucedido. E futuro prefeito de vilarejo, com noventa e cinco por cento das intenções de votos, praticamente eleito. E grande colaborador para com a PM local. Havia doado a viatura da PM ao governo do estado, para que ela ficasse em Vilarejo. Havia doado também um ano de abastecimento grátis para a viatura. Era também o detentor de 90% dos títulos do clube local.
Grandão chegou apressado, e gritou:
- Seu Aurélio!
- Pronto policial, em que posso ajuda-lo?
- TEJE PRESO EM NOME DA LEI.
- Pois não.
- Pois não o que. Anda logo, meliante, mãos para trás.
- Tudo bem soldado, mas não me machuque.
- Cala a boca, se não apanha.
- O que esta acontecendo? Por ...
- Silencio, entra ai.
A viajem de volta ao quartel foi rápida, (quase voando, cirene ligada, luzes piscando, o soldado com metralhadora, faca, pistola e etc.)
- Comandante Pessoa. Aqui esta o meliante.
Os dois garotos arregalaram os olhos, sem nada entender disseram:
- Comandante, esta aqui na pagina 267 – “DROGARIA: ESTABELECIMENTO ONDE SE VENDEM DROGAS”
- Soldado Grandããããão! O que fizestes?
- Nada senhor, apenas prendi o meliante.
Imaginem o convite do coronel ao comandante Pessoa.
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*Gerysmar Fernandes – Licenciado e Pós Graduado em Ensino de Matemática pela UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso.
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