EU e ELA NÓS (PÓSTUMOS).
DESPERTEI e ainda durmo.
O meu corpo, moído, diz-me que é muito cedo ainda.
Um vento sopra as cinzas do amor que morreu.
Com uma lentidão confusa tento entender.
E quem é esta mulher que comigo nua,
Veste-se apressada.
Quem é essa mulher que desconheço total.
E que tínhamos esquecidos do tempo, e do espaço
È provável que ali vivemos horas de amor
Certamente com sentidos.
Nenhum de nós tem nome ou existência plausível.
Se pudesse, daria um ponto de inicio a nossa imaginação.
Loucura de sonho naquele silêncio alheio?
A nossa vida era toda a vida...
O nosso amor era o perfume da dor.
Vivemos horas impossíveis, de ser descritas.
E isto, porque sabíamos, com toda a carne da nossa carne,
Que não éramos uma realidade.
Quando emergimos de repente ante de estagnar-mos
Ali aquelas cenas eram reais demais.
Olhos rasos de água, olhos parados cheios de emoção
E nós, caminhando sempre e sem o saber
Porque nos queríamos tanto.
Nem mesmo éramos coisa alguma.
Não tínhamos vida.
Éramos tão tênues e rasteirinhos
Que o vento do decorrer tempo nos deixara inúteis
E a hora passava por nós acariciando-nos
Como uma brisa pelo cimo de uma palmeira.
Não tínhamos época nem propósito.
Toda a finalidade das coisas
Ficara à porta daquele paraíso de ausência.
Éramos alma estendida nas folhas do tempo
Foi assim que morremos.
Zumbe uma mosca, incerta e mínima.
Senhores prossigam com o cortejo fúnebre.
12/01/2010
Adaptação do livro de Fernando Pessoa (O Eu profundo e os outros Eus).
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